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Mais saúde e menos dependência de fármacos

No Algarve, um grupo de 350 pessoas com mais de 65 anos está a participar num ensaio clínico com vista a promover o envelhecimento saudável. A iniciativa junta cientistas, médicos, especialistas em desporto, num programa de exercício físico, para prevenção de doenças cardíacas e dos ossos. Tudo isto decorre numa unidade frequentada por atletas de alta competição. Trata-se, portanto, de um estudo inédito em Portugal, que teve início no Laboratório de Saúde, Envelhecimento e Cinética.

Financiado pela União Europeia com quase um milhão de euros, o projeto visa reforçar a investigação, o desenvolvimento tecnológico e a inovação nas áreas da reabilitação cardíaca e osteoartrose. O ensaio clínico começou a ser feito na Faculdade de Desporto da Universidade do Algarve, com a designação de A3COR: Algarve Active Ageing — Cardiac and Osteoarthritis Rehabilitation.

Os números atuais para a Europa indicam uma prevalência média destas patologias de 30,4% em adultos entre os 65-85 anos. Extensas evidências demonstram a eficácia e viabilidade do exercício para ortoartrose (OA), com redução da dor, melhoria da mobilidade e da qualidade de vida. “As pessoas quando chegam fazem uma bateria de exames, durante os quais avaliamos a sua parte funcional, além de uma avaliação cardiorrespiratória, assim como testes relacionados com a sua qualidade de vida. Através destes testes podemos depois avaliar o impacto que o exercício tem na sua recuperação e qualidade de vida”, explica Ricardo Minhalma, coordenador da avaliação e prescrição do exercício físico da equipa.

O objetivo passa também por reduzir a dependência de tratamentos farmacológicos para estas patologias, o que representará um enorme impacto nos sistemas de saúde europeus, uma vez que a OA é, de acordo com o Global Burden of Disease Study, a principal causa de incapacidade global.

Mais investigação

Tal como concluíram os cientistas envolvidos no ensaio clínico feito na Universidade do Algarve - que defendem um maior investimento na saúde e investigação na área do envelhecimento saudável - essa foi também uma das principais conclusões do debate promovido pelo Expresso, durante esta semana. Cláudia Cavadas (líder do grupo de Neuroendocrinologia e Envelhecimento do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra), contou como o seu grupo de investigação se dedica a perceber os processos de envelhecimento das células para que seja possível diagnosticar e tratar doenças antes que estas seja irreveresíveis.

O esforço para retardar o aparecimento de doenças começa também na mudança de comportamentos. Foi o que Helena Canhão, diretora da NOVA Medical School, defendeu durante o debate: tentar modificar padrões e comportamentos, o que implica um vasto trabalho de investigação, validação clínica de inovação e novas tecnologias. Mas, para isso, é necessário financiamento e acabar com as desigualdades no acesso à tecnologia existente em Portugal.

Esta semana assinalou-se ainda o Dia Mundial da Doença de Alzheimer, uma das patologias que mais afeta a população acima dos 65 anos. Se o aumento da esperança média de vida nos prolongou o número de anos, a verdade é que existe uma forte carga de doença neste último terço da vida. Mas, chegados aqui, é preciso desconstruir certas ideias feitas: a demência não faz parte de um processo de envelhecimento normal ou saudável.

“É causada por doenças que afetam o cérebro. Para haver diagnóstico, não bastam as alterações cognitivas, estas têm de provocar perda de autonomia”, disse a psicóloga Isabel Sousa, em entrevista ao Expresso, que juntamente com a psicóloga Gabriela Álvares Pereira publicou o livro “Viver com Alzheimer”. O livro mostra a experiência de viver com demência na perspetiva de toda a gente envolvida: familiares, cuidadores, profissionais de saúde e da comunidade.

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