Caro leitor,
Aqui está mais uma edição da newsletter de Economia do Expresso exclusivamente dedicada aos Fundos Europeus.
Trago-lhe as notícias mais relevantes sobre o tema, assim como dicas e oportunidades para que consiga tirar o máximo proveito dos apoios da União Europeia.
Em retrospetiva
A execução dos fundos europeus continua sob escrutínio, com vários alertas a convergirem num diagnóstico comum: há avanços, mas também riscos sérios por resolver. A Comissão Nacional de Acompanhamento do PRR revelou que um terço dos investimentos está em risco, com 24 classificados como “críticos” e 16 como “preocupantes”, sobretudo nas áreas das florestas, energia, mobilidade urbana e digitalização. Apesar de nove investimentos já estarem concluídos, os entraves estruturais persistem, levando a comissão a recomendar medidas urgentes para acelerar decisões e garantir a sustentabilidade dos projetos.
Face a este cenário, o presidente da comissão, Pedro Dominguinhos, tem reforçado a necessidade de ação. Em entrevista ao Jornal de Negócios e à Antena 1, defendeu que uma nova reprogramação do PRR deve ocorrer até ao final do ano, admitindo que alguns investimentos poderão ter de ser retirados por falta de tempo útil de execução. No podcast Eco dos Fundos, foi mais longe, defendendo uma mudança de paradigma na aplicação dos fundos e alertando que os custos operacionais anuais pós-PRR ultrapassam os mil milhões de euros - um encargo que recairá sobre o Orçamento do Estado.
A necessidade de simplificação e coordenação também foi sublinhada pelo Presidente da República. Marcelo Rebelo de Sousa alertou que a execução do PRR “está a patinar” e sugeriu ao Governo uma nova lei sobre contratos administrativos, apelando a uma maior articulação entre ministérios e sistemas digitais. Já António Costa, numa entrevista à Antena 1, rejeitou as críticas internas e afirmou que Portugal tem aproveitado bem o PRR, embora reconheça a necessidade de mudanças no próximo quadro financeiro da UE, com mais foco em habitação e combate às desigualdades.
A nomeação de Manuel Castro Almeida para o novo “superministério” da Economia e Coesão Territorial surge neste contexto de exigência. O governante, elogiado pelos empresários como “um profundo conhecedor da Economia e do País”, fica responsável por coordenar a execução dos fundos e dinamizar a política económica, uma fusão de pastas que pretende combater a burocracia e acelerar decisões.
Do lado europeu, a Comissão Europeia reconhece que Portugal cumpre as regras orçamentais, mas insiste na urgência de acelerar a execução do PRR. Bruxelas identifica falhas no setor energético, fracos progressos em habitação e licenciamento, e riscos na sustentabilidade das pensões, recomendando reformas estruturais e mais investimento privado.
Fora da esfera política, a atenção volta-se também para a dimensão ética dos fundos. Um relatório de oito ONG, coordenado pela Bridge EU, denuncia que mais de mil milhões de euros financiaram projetos que violam direitos de minorias em vários países, incluindo habitação segregada, escolas separadas e centros de acolhimento indignos. A Comissão Europeia está a investigar, mas as ONG apelam a uma gestão mais ética e transparente.
Também o Tribunal de Contas Europeu deixou um alerta: os fundos para prevenir fogos florestais nem sempre são eficazes, sendo por vezes aplicados fora das zonas de maior risco ou com base em dados desatualizados. No caso português, chegou mesmo a ser financiada uma área submersa. Sem garantias de continuidade após o PRR, os efeitos destas medidas poderão ser apenas temporários.
Por fim, a médio prazo, o panorama poderá mudar estruturalmente. A comissária europeia Maria Luís Albuquerque advertiu que Portugal se prepara para deixar de ser beneficiário líquido dos fundos da UE. Este será, segundo defende, um sinal de progresso económico, mas exigirá novas estratégias, maior investimento nacional e uma melhor articulação com o sistema financeiro europeu.
Ficou no ouvido
"Conhecemos bem o novo titular [...], um profundo conhecedor da Economia e do País"
Esteja atento: descubra as oportunidades nos fundos
Se quer aproveitar os fundos europeus, vale a pena espreitar os planos anuais de avisos do Portugal 2030 e do PRR. Estes planos mostram os concursos que estão previstos abrir ao longo do ano e são uma forma simples de perceber, com alguma antecedência, que apoios vão estar disponíveis e quando. Podem ajudar a preparar as candidaturas com tempo e aumentar as hipóteses de sucesso.
Barómetro dos fundos
- Plano de Recuperação e Resiliência
Os dados de monitorização do PRR indicam que Portugal embolsou, até 4 de junho, €11.396 milhões, cerca de 51% do envelope financeiro de €22.216 milhões. Em avaliação, encontram-se €1337 milhões, respeitantes ao sexto pedido de pagamento.
Ao nível da execução, dos 438 marcos e metas acordados com Bruxelas (eram 463 antes da reprogramação), 145 (33%) foram cumpridos, 32 estão em avaliação e 27 em fase de apresentação. Já as transferências aos beneficiários diretos e finais totalizam €7918 milhões, o equivalente a 36% do envelope. “Em trânsito” nos beneficiários intermediários, isto é, nas entidades gestoras dos programas, estão €1886 milhões.
As empresas (€2801milhões), as entidades públicas (€1700milhões) e as autarquias e áreas metropolitanas (€994 milhões) estão no topo dos beneficiários com maior valor recebido até agora.
- Portugal 2030
O boletim mensal mais recente revela que o Portugal 2030, com verbas de €22.995 milhões, leva uma taxa de execução de 7,3% (€1668 milhões), embora €7120 milhões, ou seja, 31% da dotação, já tenham recebido “luz verde”.
Até dia 30 de abril, o atual quadro comunitário de apoio tinha 992 avisos lançados, com €13.365 milhões de fundo a concurso. Destes, 47% pertencem ao FEDER, 33% ao Fundo Social Europeu+ e 16% ao Fundo de Coesão.
No âmbito dos 12 programas que compõem o Portugal 2030, a maior parcela de aprovação e de execução continua a pertencer ao Pessoas 2030.
A próxima edição da newsletter de Fundos Europeus regressa no próximo mês, mas, até lá, pode acompanhar diariamente as notícias mais relevantes no Expresso. Caso tenha algum comentário ou sugestão pode contactar-me através do seguinte e-mail: mcdias@expresso.impresa.pt
Desejo-lhe um ótimo fim de semana e… boas leituras!