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Sim, a imigração estava (está) mesmo descontrolada

Luís Barra

Boa tarde,

É incrível e revelador do clima de pós-verdade: nas nossas televisões ainda ouvimos “comentadores” e políticos a insistir na ideia de que a imigração não estava descontrolada e que não era preciso fazer nada. Lamento, mas não há como dizer: boa parte dos comentadores vive de facto numa bolha que faz duas coisas: divide o mundo em duas cores; a seguir, sinaliza uma virtude meramente emocional ou moralista dentro da cor certa. Nesta esfera mental, qualquer crítica, reparo ou dúvida sobre imigração é por inerência um sinal de “racismo”, “xenofobia”, uma cantilena que arrasta parte dos mass media tradicionais para um divórcio claro com a realidade e por arrasto com o público.

Sim, devemos ser uma sociedade aberta e cosmopolita na escala dos valores.

Sim, a economia precisa de imigrantes na escala dos interesses.

Sim, até podemos ser contra a nova lei da nacionalidade cozinhada pela AD. Eu sou. Mas defender estas três premissas é só o início da conversa. A seguir, temos de estar disponíveis para resolver os problemas gerados pela imigração. Mais: temos de estar disponíveis para perceber que pode haver – num dado momento histórico – um excesso de imigração ou uma imigração demasiado descontrolada. Os fluxos de pessoas têm de passar pelo portal da lei; se não, tornam-se demasiado volumosos e causam receio. Somos ou não somos sociedades da lei? Lá, Biden e os democratas em geral foram incapazes de reconhecer o total colapso da fronteira e da política de imigração. Pagaram caro. Uma coisa é sermos abertos, outra é sermos irresponsáveis e coniventes com a ilegalidade. Cá, como o próprio Pedro Nuno Santos reconheceu tarde demais, a imigração em Portugal descontrolou-se com António Costa. Uma coisa é ter portas que abrem, outra é não ter porta. O PS pagou caríssimo essa cegueira. Quem é que perdeu mais votos para o Chega? O PS.

Usando apenas a minha memória, coloco aqui alguns factos que provam que a imigração em Portugal estava (está?) descontrolada e que esse descontrolo é – para começo de conversa – prejudicial para os imigrantes, pois são óbvias vítimas de exploração de redes internacionais e de portugueses sem escrúpulos.

I. Os escravos do rio Tejo; a história da Raquel Moleiro começa em 2017, antes do fenómeno Chega, mas, precisamente por causa disso, ajuda a explicar porque é que o Chega ganhou tantos votos na Margem Sul. Aquelas pessoas vieram para o nosso país e eram/são na prática escravos ali nos areais de Alcochete (apanha da amêijoa). Falar disto é “racismo” ou, pelo contrário, é um sinal de humanismo?

II. Os imigrantes formam um largo contingente dos sem-abrigo. Isto é uma política de imigração decente? Dizemos às pessoas que podem vir para cá mas depois não disponibilizamos uma habitação condigna. É assim em Lisboa. É assim no Porto, como podem ver nessa reportagem da Renascença. Por falar em Renascença, reporto aqui um episódio revelador que se passou à minha frente: estamos em 2022 ou 2023, estúdios da Renascença, manhã; a ministra Vieira da Silva é convidada; pegando numa peça do dia que fala do número crescente de imigrantes sem abrigo, o jornalista confronta a ministra com essa realidade. A resposta da ministra diz tudo sobre o colapso político e intelectual de uma narrativa: “Ah, isso é ceder às agendas securitárias.” Perdão? Dizer que é imoral e perigoso abrir as portas a imigrantes que depois só podem viver na rua é ser “securitário” e “racista”?

III. A GNR desmantelou há dias redes ilegais de imigrantes que vivem em condições miseráveis. Perante isto, dizer que não há um problema na regulação da imigração é um ato de negação, é uma desonestidade intelectual; pior: é um ato snobe de quem vive na bolha: as pessoas que comentam na TV normalmente vivem em bons bairros muito afastados das periferias onde esta precariedade é vivida, quer pelo imigrante, quer pelos portugueses que vivem ao lado destas situações. Viver num prédio que tem um apartamento com vinte imigrantes ilegais não é simpático. Não é simpático viver ao lado de barracões ou barracas de imigrantes ilegais. É fácil falar a partir das nossas casas bem centradas e bem longe do caos das periferias onde tudo isto se passa.

IV. Pastores evangélicos arrendam barracões a imigrantes, que vivem ao lado de ratazanas e percevejos.

V. Mais redes clandestinas: em Lisboa, dois apartamentos eram a morada de 4349 moradas. Parece piada. E há mais redes clandestinas com a conivência de funcionários de juntas de freguesia; redes que davam subornos a cidadãos para que estes cedessem a sua morada aos ilegais ou para que testemunhassem que X, Y e Z moravam na tal rua. Há pessoas – no caso da Penha de França – que assinaram 1400 papéis; o que lhes garantiu, sem qualquer esforço, 20 mil euros em poucos meses. No final disto tudo, temos este dado quase cómico: uma rua com 10 mil habitantes. Isto coloca o esquema das moradas falsas noutro patamar.

VI. Catarina Portas avisou para um problema que continua por reportar na sua devida dimensão e escândalo: como é que tantas lojas – ocupadas por imigrantes – têm dinheiro para pagar as rendas se não têm visivelmente clientes? Como é evidente, este é um esquema ilegal de branqueamento de dinheiro e de imigração ilegal. São lojas de fachada às claras.

VII. A nova unidade da PSP que vem substituir o SEF tem à cabeça 100 mil processos de imigrantes ilegais que podem acabar na expulsão das pessoas. Se isto não é um descontrolo, então é o quê?

VIII. O caso das barracas no bairro do Talude.

IX. É evidente que o excesso de imigração no Martim Moniz causa ou acelera problemas, que muitas vezes até resultam apenas de choques culturais que carecem de mediação e que carecem de políticas sérias de integração.

X. É evidente que os imigrantes da apanha dos frutos vermelhos são vítimas de redes de tráfico de seres humanos. Como é que denunciar redes de tráfico humano pode ser visto como “xenofobia”?

XI. Mulheres alentejanas queixaram-se de assédio da parte de homens do Indostão no sudoeste alentejano; raparigas e mulheres sentem-se inseguras e perseguidas por homens oriundos de uma cultura que destrata a mulher, sobretudo uma mulher que se vista como uma ocidental. O Alentejo fica no Ocidente, certo?

XII. Para pagarem as dívidas às máfias ou redes de tráfico, imigrantes dormem na bagageira dos Uber que conduzem de dia. Não é piada.

Repito: esta foi uma das newsletters mais fáceis que fiz até hoje; só tive de rebobinar a minha memória, não precisei de escavar. A imigração estava ou está ainda descontrolada. Não há debate sobre isso, é um facto. O debate começa depois: como é que mantemos uma imigração regulada e constante como precisamos? Se os democratas não tratarem das fronteiras, os fascistas fá-lo-ão à bruta.

Até para a semana.

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