Boa tarde,
Não me parece aceitável o silêncio mediático em redor do assunto “Argentina” e “Milei”.
Falou-se muito de Milei no início (final 23, início 24) porque dava jeito apresentar a Argentina como mais uma conquista da extrema-direita ou do populismo. Primeiro erro. Milei não é da extrema-direita, é libertário. Podemos criticá-lo por x e y, mas não podemos confundi-lo com o movimento populista de Bannon, Trump, Bolsonaro. A relação entre um libertário e um populista fascizante é a mesma que existe entre um anarquista e um comunista ortodoxo, zero ou quase.
Também se falou de Milei no início para garantir ao público que a receita económica libertária ou liberal (depende da perspetiva) iria de certeza falhar e que a Argentina ia ser um fracasso, um inferno “neoliberal”. Segundo erro. As coisas na Argentina estão a resultar, mas agora não se fala do assunto. Porquê? O “Guardian", por exemplo, garantia que a Milei era um desastre no início de 24. Onde estão agora as peças de 25 para contar a outra parte da história? Não há. Podem ver aqui: zero.
Resta a pergunta: o que é a realidade para o “Guardian"? Posso repetir a pergunta para o jornal ”The New York Times": não há qualquer registo do sucesso económico argentino no arquivo do NY Times. – Só há peças negativas que ligam Milei de forma errada a líderes nacionalistas como o primeiro-ministro indiano. O que é a realidade para a redação do NY Times? Também parece sofrer dessa doença chamada pós-verdade: há deturpação que martela factos até estes perderam a sua forma original; e há negação pura e dura de outros.
Esta alergia a líderes tidos como “neoliberais” não é nova. Olhe-se para a Grécia. Atenas interessou mediaticamente enquanto foi liderada pelo Syriza. O Syriza enterrou ainda mais a Grécia com o seu radicalismo. Quem é que salvou a Grécia? Um governo de centro direita com políticas económicas do grande leque liberal. Fala-se disso? Não.
O silêncio não é opção perante o que se está a passar. Milei está a dar aos argentinos uma normalidade económica que não tinham há mais de um século. É bom relembrar que antes da crise de 1929, a Argentina era um fabuloso caso de sucesso económico; estava entre os dez mais ricos do mundo. É por isso que o Brasil é sempre o país do futuro e a Argentina do passado.
Agora, com Milei, a inflação está baixa. Baixou de 13% para 2%. Já esteve no 1,5%.
O défice está controlado 123 anos depois. Sabem o que ajudou? Milei fez um orçamento zero, repensou de alto a baixo e reduziu o estado de 18 para 8 ministérios; cortou burocracias, taxas, taxinhas, requerimentos, etc etc. Qual é um dos grandes problemas da esquerda ocidental, quer nos EUA quer na Europa? O excesso de burocracia que tantas vezes é auto destrutivo para as próprias políticas de esquerda. Nós vivemos sufocados num excesso de estudos, leis, normas, alíneas, vivemos num labirinto de diferentes burocracias que torna impossível fazer coisas em tempo útil. Não há nada para aprender aqui com o espírito libertário? Vamos imaginar que Portugal lançava agora um programa de habitação social para responder à urgência social em curso. Quantos meses teríamos de esperar até alguém assentar o primeiro tijolo desse projeto? Meses? Anos?
Com Mileu, a pobreza está a diminuir. O nível de pobreza era 42% quando Milei foi eleito. Na segunda metade de 24 já era de 38%. Agora é de 31%.
O PIB argentino está agora a subir a 7%. Repare-se que antes de Milei entrar na governação (Dezembro 23/Janeiro 24), o pib argentino tinha acabado de contrair - 1,6%.
Entre outras medidas, Milei restaurou a independência do banco central (o oposto de Trump, repare-se) e confrontou monopólios controlados pelo estado – isto é, pelas corporações do estado: companhias aéreas e comboios, por exemplo. Não há nada a aprender aqui? Qual é um dos grandes problemas da nossa Grande Lisboa? A incapacidade para reformar os transportes públicos que estão na prática nas mãos dos sindicatos que controlam transportes monopolistas. Vamos continuar na nossa decadência a fingir que não sabemos qual é o problema? Vamos continuar nas mãos de trabalhadores que fazem “plenários” nas horas de ponta?
Em resultado disto tudo, o otimismo dos argentinos está a crescer, tal como a confiança no governo. E, não por acaso, Milei ganhou o primeiro grande teste eleitoral após a chegada ao poder: eleição municipal de Buenos Aires.
Não há volta a dar: a roda da história mudou de sentido na Argentina e isso deve-se ao mérito de Milei. Um político pode ter sucesso eleitoral mentindo às pessoas, o seu mérito é zero, é um demagogo. Um político não pode ter sucesso económico sem ter mérito a sério, porque não dá para mentir à realidade.
Em resumo, a Argentina libertária é uma história de sucesso e temos de falar dela, mesmo que isso implique mea culpa, porque um libertário que não acredita em tarifas é talvez um dos grandes antídotos que temos contra Trump. Milei é tudo menos um populista trumpista, e nem sequer pode ser visto como o habitual populista argentino e sul americano – faz o exato contrário, não dá subsídios, não impõe tarifas, não agita a bandeira do nacionalismo.
A questão agora não é económica, mas política: Milei mostrou que consegue consertar a economia com medidas liberais. Agora não pode ceder à tentação peronista, o culto da personalidade que é a montante a raiz dos problemas económicos a jusante.
Um abraço,
Henrique