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Sabe quantas pessoas morreram em Fukushima?

Boa tarde, caro leitor

Nesta semana, a Contrafactual é composta por dois “Contado não se acredita”. O primeiro é a antecâmara de uma newsletter só sobre energia nuclear, que surgirá em breve. O segundo é um eco de um ensaio que publiquei há uns anos sobre a nossa relação com a carne e a comida, que procura ser um ponto de equilíbrio entre o radicalismo ecológico do vegetarianismo e o radicalismo capitalista da atual indústria agroalimentar.

CONTADO NÃO SE ACREDITA I

Quantas pessoas morreram em Fukushima?

Tenho feito esta experiência nos últimos meses: peço às pessoas (amigos, familiares, colegas, leitores) uma estimativa sobre o número de mortos do acidente nuclear em Fukushima, ou pergunto mesmo “sabes quantas pessoas morreram em Fukushima”? Ainda não tive uma resposta certa, nem mesmo quando desconfiam que estou a pregar uma rasteira. As pessoas dizem 200 mil, 500 mil, 50 mil, 1000, ou 100 ou 50 quando percebem que pode ser uma rasteira.

Mas o número é zero. Ninguém morreu em Fukushima. E o curioso é que, quando se diz isto, as pessoas da audiência desatam a rir: ou riem porque acham que é piada, ou riem porque acham que a pessoa que está a dizer isto só pode ser um idiota. Mas, lamento imenso, ninguém morreu. Em vez de rirem, as pessoas deviam pensar nisto: porque é que criam na cabeça narrativas emocionais tão desprovidas de factos e de curiosidade? É fácil procurar. Quer dizer, não procurem através do Google. Se colocarem no Google as palavras “Fukushima” e “zero”, ele não vai dar “zero mortos”, mas “ground zero”. Também gosta de drama e emoção, o dr. Google. Pessoas morreram por causa do pânico criado pelos média e não pela radiação no ar.

O governo japonês celebrou um acordo com a família de um trabalhador que alegou que desenvolveu cancro por causa do incidente – mas é altamente improvável que o cancro desta pessoa tenha resultado do acidente, porque o nível de radiação foi muito baixo.

Até agora, este é o dado mais revelador de todas as pesquisas que já fiz para esta newsletter. Ou seja, este assunto provoca o maior abismo entre a realidade e a percepção. Há uma carga emocional e de desinformação tão grande sobre a energia nuclear que é criada uma narrativa que exige milhares de mortos, quando na verdade não há nem um. Nem haverá: até hoje não houve mortos causados pela radiação, nem haverá, porque a radiação foi controlada. E não vale a pena impor a narrativa da morte mental quando a narrativa da morte é desautorizada.

Não por acaso, o Japão está a renovar a sua rede de energia nuclear.

Em resumo, a narrativa emocional e mediática que nos foi vendida andava na casa da “repetição de Chernobyl”, mas não foi nada disso, nem de perto, nem de longe. Mas, já agora, sabes quantos mortos causou Chernobyl? Não é o que pensam.

CONTADO NÃO SE ACREDITA II

Sabe quantos frangos são mortos por segundo?

São mortos por dia – no mundo inteiro – quase 4 milhões de porcos, quase 1 milhão de vacas, 1,7 milhões de ovelhas, 1,4 milhões de cabras, 12 milhões de patos e 202 milhões de frangos. O que dá 2.300 frangos abatidos por... segundo. Parece mentira: 140 mil galinhas por minuto. Dá que pensar, ou não?

O vegetarianismo é uma espécie de negação da natureza, como já vimos aqui, mas esta indústria de pecuária também é algo que nega a nossa natureza humana, a nossa sensibilidade, ou não?

Até para a semana,

Henrique

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