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Líbia: “Desapareceram famílias inteiras, os corpos estão a entrar em decomposição, a situação é crítica e propícia a uma epidemia”

Uma semana e meia depois da tragédia se ter abatido sobre a região oriental da Líbia, milhares de pessoas continuam desaparecidas. A comitiva das Nações Unidas em Derna alertou, entretanto, que um surto de doenças poderá criar "uma segunda crise devastadora", havendo já relatos de propagação de diarreia. No terreno, as equipas de resgate e salvamento queixam-se da falta de condições. No que resta da cidade, há quem transforme o luto em raiva e saia para a rua para gritar contra a corrupção: “Se for para reconstruir Derna, espero que não contratem empresas líbias. Da autarquia ao Governo central são todos corruptos”. Veja o vídeo

Em Derna, na Líbia, perdeu-se tudo e grita-se contra a corrupção uma semana e meia depois do desastre que "faz tremer a Líbia". Kassar Hassan afasta com as próprias mãos o barro que lhe cobre a casa, em busca dos pertences da família. Estava no Egipto há dois dias para um tratamento médico quando soube pelo telefone que tinha acabado de perder os quatro filhos e a neta. “Há um problema na tua casa”, disse-lhe a voz de uma mulher. Quando regressou, os vizinhos já lhe haviam enterrado a família. Não culpa Deus, mas sim "os responsáveis políticos".

Eram duas da manhã, depois de um dia de forte precipitação causada pela tempestade Daniel, quando a força da água venceu a do betão. A cidade já dormia quando as barragens a montante do rio que a atravessa cederam e deixaram a água correr forte, varrendo tudo no caminho em direção ao mar. Os filhos de Kassar Hassan estão entre os 3 958 mortos que a ONU estima. Há mais 9 mil desaparecidos cujos corpos têm de ser encontrados, identificados e enterrados quanto antes, a fim de evitar uma epidemia.

No terreno, as equipas de resgate e salvamento queixam-se da falta de condições. No que resta da cidade, há quem transforme o luto em raiva e saia para a rua para gritar contra a corrupção: “Se for para reconstruir Derna, espero que não contratem empresas líbias. Da autarquia ao Governo central são todos corruptos”.