"Quem nos viu já foi contar que me encontrou com novo amor sem saber nada / Vão falando porque é fácil inventar / todos inventam por aí. / Acertaram sem saber que uma paixão / anda agora dentro do meu coração / Desta vez podem dizer seja o que for mas isto agora é mesmo amor!" São estes os versos que Marco Paulo (e Bruno Nogueira...) cantam no início da música, qualquer coisa como meia centena de palavras em cerca de meio minuto. A maioria das pessoas provavelmente identificará o refrão, mas não o resto da letra. E esse foi de resto um dos motivos que levou o humorista a ter a ideia de reinventar o "pimba".
"Achei divertido tentar virar estas músicas do avesso e mostrar que há mais do que à primeira vista se vê", diz Bruno Nogueira, que admite o fascínio por este universo musical, pelo seu lado "kitsh", pelos bastidores dos concertos e os bailes das terreolas. Um dos objetivos foi valorizar as histórias que estão escondidas nas letras e que vão além do refrão, através de novos arranjos musicais que passam pelo jazz e o pop. "É como um quadro quando visto com uma luz diferente."
A ideia surgiu-lhe meio a brincar, porque "quando se começa a ter uma ideia muito a sério é mais fácil uma pessoa desapontar-se". Vai daí, depois de algum tempo no congelador, Bruno decidiu pôr a brincadeira em prática e convidar Manuela Azevedo, vocalista dos Clã, que aceitou de imediato. Filipe Melo, Nélson Cascais e Nuno Rafael são os restantes membros que integram o projeto "Deixem o Pimba em Paz", que foi buscar o título a uma música de Graciano Saga. Além de Marco Paulo, reinventaram músicas de Quim Barreiros, Ágata, Mónica Sintra, José Malhoa, entre outros artistas.
O que era para ser um espetáculo isolado transformou-se numa digressão por todo o país, num CD ao vivo e em dois espetáculos nos Coliseus de Lisboa e do Porto. O Expresso quis ir ainda mais além e vencer a barreira do espaço e do tempo: e se a versão original da música "Ninguém Ninguém" pudesse saltar dos anos 80 e cruzar-se com o arranjo dos dias de hoje? O resultado é um Marco Paulo - ainda com caracóis - a cantar, lado a lado, com Manuela Azevedo e Bruno Nogueira. "Ninguém pode mudar o mundo?" O vídeo pode.
Além de "Ninguém, Ninguém", também "Taras e Manias", igualmente de Marco Paulo, ganhou uma nova sonoridade. Já para não falar de "Comunhão de Bens" e "Sozinha" de Ágata, da "Cabritinha", "Padaria" e a "Garagem da Vizinha" de Quim Barreiros, ou das "24 Rosas" de José Malhoa. Outras houve que ficaram pelo caminho, porque "não foi possível encontrar uma solução suficientemente boa para trazê-las para o palco, confessa Manuela Azevedo. Ainda assim, o grupo promete novidades nos concertos previstos para os Coliseus - um decorreu quinta-feira, em Lisboa, ou próximo está marcado para este sábado, no Porto.
A vocalista dos Clã considera limitativo o rótulo de "pimba" aplicado a estas músicas, pela conotação pejorativa que foi ganhando com o passar dos anos. "Porque há muita variedade de música popular: Quim Barreiros é diferente de Ágata, que por sua vez é diferente de Marco Paulo..."
Mas, afinal, o que é que fascina as pessoas neste tipo de música? O que é que leva muitas pessoas a dizerem que não gostam, mas a conhecerem as letras de trás para a frente? As respostas surgiram no meio do ensaio a que o Expresso assistiu no Teatro Tivoli, em Lisboa. E, pelo meio, Bruno, Manuela e companhia ainda tocaram "Na Minha Cama com ela", de Mónica Sintra, para os leitores do Expresso.