Lusa

OMS avisa que operação militar em Rafah provocaria “um desastre humanitário inimaginável”

A cidade de Rafah no sul de Gaza alberga cerca de 1,5 milhões de deslocados palestinianos, por isso, “as atividades militares numa zona tão densamente povoada seriam, naturalmente, uma catástrofe inimaginável e alargariam o âmbito do desastre humanitário para além do imaginável”

Anadolu

A Organização Mundial da Saúde (OMS) advertiu hoje que uma operação como a que Israel anunciou para Rafah, último "reduto" sem combates em grande escala na Faixa de Gaza, seria "catastrófica" e provocaria "um desastre humanitário inimaginável".

"É possível ver o medo no rosto das pessoas", disse o representante da OMS nos Territórios Palestinianos Ocupados, Rik Peeperkorn, numa conferência de imprensa por vídeo a partir de Rafah, na zona sul do enclave.

Peeperkorn recordou que, antes do conflito, Rafah era uma cidade tranquila com cerca de 30.000 habitantes, mas que atualmente alberga mais de 1,5 milhões de pessoas deslocadas de zonas mais a norte do território devastadas pelos ataques israelitas.

"Estão amontoados por todo o lado, num espaço muito pequeno onde construíram muitos abrigos temporários", descreveu o especialista.

Nessa zona, como noutras de Gaza, o sistema de saúde está "à beira do colapso", com apenas três hospitais em funcionamento, embora tenham sido criados mais três hospitais de campanha para alargar o mais possível os cuidados aos feridos e doentes.

"Os hospitais estão completamente sobrecarregados, os fornecimentos são escassos e os profissionais de saúde, quase sem contacto com as suas famílias, precisam de uma pausa", relatou.

O pessoal médico, acrescentou, é forçado a efetuar amputações devido à falta de recursos para tratar pacientes cujos membros poderiam ser salvos por uma cirurgia num ambiente normal.

Denunciando o "encolhimento do espaço humanitário" em Gaza, o representante da OMS acusou Israel de continuar a "obstruir a entrega de ajuda humanitária" no território palestiniano, devastado pela guerra entre Israel e o Hamas, desencadeada após um ataque sem precedentes do movimento islamita em 7 de outubro.

Desde novembro, "apenas 40%" das missões da OMS no norte de Gaza foram autorizadas e "desde janeiro, o número é muito inferior", explicou Peeperkorn. A percentagem para o sul é de cerca de 45%. As outras "foram recusadas, obstruídas ou adiadas", afirmou.

"Isto é absurdo. Mesmo na ausência de um cessar-fogo, devem existir corredores humanitários para que a OMS, as Nações Unidas e os seus parceiros possam fazer o seu trabalho. Precisamos de criar um sistema de desconfiança pragmático e diferente para podermos fazer o nosso trabalho", disse.

Os mediadores internacionais intensificaram hoje os seus esforços para alcançar uma trégua entre Israel e o Hamas, na esperança de evitar um ataque terrestre israelita a Rafah, no extremo sul da Faixa de Gaza.

"As atividades militares numa zona tão densamente povoada seriam, naturalmente, uma catástrofe inimaginável e alargariam o âmbito do desastre humanitário para além do imaginável", alertou Rik Peeperkorn.