Se me perguntarem hoje em que terra foi, estou ainda mais baralhado do que Mário Soares estava na altura. Terá sido em Oliveira do Bairro? Oliveira do Hospital? Oliveira de Azeméis? Oliveira de Frades? Enfim, foi num sítio destes. Mas comecemos a história pelo princípio.
Mário Soares vinha com o seu carro, salvo erro, na altura, um espaçoso Citroën, conduzido pelo seu motorista Américo. Confiando na condução profissional, deixou-se, como também era seu hábito, adormecer. E foi nos braços de Morfeu que chegou a um largo onde estava montado um palanque e uma série de gente, com bandeiras do MASP (Movimento de Apoio Soares a Presidente) gritava: “Soares é fixe”, palavra de ordem inventada por um ex-dirigente da Juventude Centrista , de nome Adelino Vaz, que se passara para o campo soarista (apesar da candidatura da direita ser protagonizada por Freitas do Amaral). Uma das variações dessa palavra de ordem era mesmo “Soares é fixe e o Freitas que se lixe”, que derrotara claramente uma outra, também imaginativa que clamava “Uma bochecha mimosa no palácio cor-de-rosa” (recorde-se que a alcunha do Soares era ‘bochechas’).
Soares sai do carro, recém-acordado, mas sempre determinado, sobe ao palanque e diz: “Amigos de Oliveira do… (e agora entra a dúvida e eu conto a história que pode ter sido com outros nomes)… Hospital!”. Perante o seu espanto, o povo reunido vaia e assobia. O mandatário e mais alguns apoiantes tentam emendá-lo cá de baixo.
Mas pior foi a emenda do que o soneto. Soares retifica e diz: “Amigos de Oliveira do Bairro!”. Risada geral, também não era essa a terra. Até que um assessor do candidato se assoma e lhe diz, definitivamente, o nome da terra – imaginemos que Oliveira de Azeméis.
Soares não se desmancha:
“Amigos de Oliveira de Azeméis, muitas oliveiras tem este país e todas repletas de amigos que querem combater por um Portugal melhor. Contra o Portugal de outro Oliveira, o Oliveira Salazar, que destruiu este país e agora tem as forças que apoiam Freitas do Amaral a querer voltar ao passado”. (Isto é citado de memória e não ipsis verbis, mas Soares frisava sempre que Freitas era um democrata incapaz de controlar as forças que estavam por detrás dele).
Grande salva de palmas. Soares, que entrara sob apupos, saía em glória. Os apoiantes mais facciosos apostavam que ele fizera de propósito, mas isso é não conhecer a capacidade de improviso e a rapidez que o então futuro Presidente da República possuía.