Legislativas 2019

Portas ao lado de Cristas no final de uma “campanha difícil”: “É preciso concentrar votos”

Num encerramento atribulado, e improvisado, Paulo Portas apareceu para o derradeiro apelo ao voto contra a "arrogância e o uso e abuso do poder". Devido à morte de Freitas, a campanha ficou por aqui

NUNO BOTELHO

O momento do dia:

Chegou, cumprimentou, comeu, falou e foi-se embora: a aparição de Paulo Portas ao lado de Assunção Cristas teve de ser improvisada, uma vez que, com a morte de Freitas do Amaral, as atividades da tarde - onde estava prevista a sua presença - foram canceladas. Ainda assim, a intervenção muito aguardada do antigo líder marcou o curto dia de campanha.

A frase:

"Percebo que possa haver ideias interessantes em partidos novos, mas os eleitos são os que contam"
Paulo Portas, ex-líder do CDS

O personagem:

De novo, Paulo Portas, que em poucos minutos fez o apelo ao voto que faltava para encerrar a campanha do CDS. Apareceu em Setúbal, num almoço onde nem era para haver intervenções, e pediu o voto com uma série de mensagens curtas e concisas. Também ele sabe o que são "campanhas difíceis", assumiu, sorrindo para Assunção.

A fotografia:

Cristas no mercado da fruta das Caldas da Rainha, em pleno (derradeiro) apelo ao voto
NUNO BOTELHO

Não há memória de um encerramento de campanha tão modesto. Num restaurante de Setúbal, com travessas de choco e batata frita nas duas mesas compridas e uma convocatória de última hora a parte do estado-maior do partido, o CDS fechou as duas semanas de campanha com um sabor amargo na boca. Contou, no entanto, com o apoio de Paulo Portas, que apareceu em Setúbal quase de surpresa para um derradeiro apelo ao voto.

A reta final da campanha não podia ter sido mais diferente do que o CDS tinha planeado. Depois de uma sucessão de incidentes e imprevistos, do caso Rui Moreira à tentativa de agressão no Porto, que foram tornando a campanha cada vez mais turbulenta, a notícia da morte de Freitas do Amaral mudou os planos para um último dia que se queria intenso e mobilizador. Assim, em vez do percurso Porto-Lisboa a culminar com a arruada do Chiado e um comício final no Caldas, a agenda de sexta-feira ficou reduzida a uma passagem rápida pelo mercado da fruta das Caldas da Rainha e um almoço em Setúbal.

Era para ser uma refeição casual, e na verdade mais parecia um almoço de família. Com a presença de última hora de Paulo Portas - que, como o Expresso tinha noticiado, tinha planeado aparecer no encerramento da campanha, em Lisboa -, o restaurante setubalense passou a contar com um pequeno palanque improvisado, mesmo sem microfone a funcionar.

Foi dali que Paulo Portas falou a quem se encontrava na sala, ainda com comensais que não teriam nada a ver com o CDS sentados a almoçar, mas também com nomes como Adolfo Mesquita Nunes, Nuno Magalhães (candidato por Setúbal) ou Ana Rita Bessa atentos ao discurso.

“Todos sabemos o que é fazer campanhas difíceis e surpreender no dia das eleições”, começou por reconhecer Portas, vaticinando: “Assim aconteceu, assim acontecerá”. A história do CDS, lembrou, foi desde o início e da fundação feita de dificuldades - embora as que costumam referir nestas alturas, e que têm a ver com as sondagens tradicionalmente pessimistas para o CDS, não se tenham cumprido nas últimas eleições europeias, em que os resultados foram ainda piores do que o esperado.

Dali, passou às razões políticas para convencer os indecisos a apostar no CDS - e explicou o porquê da aparição na reta finalíssima da campanha: “É no último dia e no sábado de reflexão que muitos eleitores vão decidir”. Nesta altura é preciso ser pragmático e concentrar votos, sem os ‘desperdiçar’ em novos partidos [como o Iniciativa Liberal ou o Aliança, por exemplo]. “Com todo o respeito por quem tem iniciativa política: nestas circunstâncias é preciso concentrar votos nos que podem eleger deputados. Percebo que possa haver ideias interessantes em partidos novos, mas os eleitos são os que contam e o CDS é essencial para que no Parlamento haja uma boa bancada”, pediu.

Outros motivos são a “necessidade de travar a crescente arrogância do discurso do poder” - “se eles são assim sem maioria, imaginem o que seria com maioria” - e a lembrança, ou o trauma, da “lição” das eleições de 2015. “Em 2015, não contou quem ganhou as eleições, mas quem somou deputados no Parlamento. Os deputados do CDS somam e sem eles não há uma maioria para mudar”. Falta no entanto saber se a direita, mesmo somada, conseguiria maioria. E é também por isso que Portas, como Cristas tem dito e repetido ao longo da campanha, chamou a atenção para distritos concretos, “Lisboa, Porto, Setubal, Braga, Aveiro, Leiria, Viana, Viseu”, onde está em causa a eleição de um deputado do CDS, da esquerda ou do PAN, em alternativa.

“Um dos mistérios da democracia é que os cidadãos quando votam não sabem o que os outros estão a fazer, mas não queiram acordar na segunda com deputados a mais da esquerda e a menos do CDS”, resumiu. E Cristas agradeceu a presença a “um dos mais desejados da campanha, que vem hoje e em boa hora”.

Não arrisquem, não dispersem

O apelo final de Cristas foi feito com recurso ao discurso habitual - o CDS é o único voto “seguro e confiável” para conseguir uma alternativa ao PS, porque “todos os outros, no limite, ou assumidamente, vão parar ao PS ou numa solução de recurso, quem sabe”. Mas também falou da campanha, para voltar a referir a tentativa de agressão de que foi alvo esta semana nas ruas do Porto, durante uma arruada. “Houve muitos ataques, não só o mais direto e físico mas outros, nos artigos e nas opiniões [publicadas]. Sentimos que tínhamos de ter a coragem de continuar a afirmar que não fazems concessões a uma maioria muitas vezes do politicamente correto”, dramatizou.

Os dados estão lançados: a partir de agora, a campanha está encerrada e Cristas estará presente nas cerimónias fúnebres de Freitas do Amaral, durante esta sexta-feira e sábado. Não há mais nada que possa fazer para garantir a “surpresa” com que Portas garantiu contar no domingo. “A nossa sorte está nas mãos de todos no domingo. Não vão ao engano. Em 2015 muitos quiseram fazer um voto tático e queriam que tivesse continuado aquela solução de Governo, talvez com mais abertura e concessões- e acordaram e não a tinham. Não arrisquem em votos novos e não dispersem”. Abraço do ex-líder e da sucessora, palmas em pé e uma campanha encerrada. Domingo se verá.