A frase do dia:
"Identificamos como altamente possível a eleição de um deputado por Aveiro, mas isto não vai ser fácil"
Miguel Viegas, cabeça de lista da CDU no comício feito em Aveiro
O momento:
É antes, um não-momento. A forma como, mais uma vez, a campanha da CDU evitou pronunciar-se sobre a polémica de Tancos é uma marca de água da estratégia comunista para estas Legislativas. Depois de um silêncio prolongado, Jerónimo acabaria por prestar uma declaração sem direito a perguntas, o final de um comício, e já quando todos os partidos se tinham pronunciado. Só voltou ao assunto por insistência dos jornalistas e com visível incómodo por parte da organização da campanha. Hoje, com a proposta de uma reunião extraodinária da comissão permanente da Assembleia da República em cima da mesa, fugiu de novo às balas. E foi com um lacónico remeter para as declarações prestadas pelo líder e a sua não-oposição a qualquer iniciativa parlamentar sobre a matéria, que o PCP respondeu às dúvidas da Comunicação Social. Para a CDU este seria um assunto a evitar durante todo o período eleitoral, senão mesmo daqui para a frente.
A personagem:
Miguel Tiago regressou à linha da frente da vida partidária como cabeça de lista da CDU por um distrito onde nunca os comunistas conseguiram eleger um deputado. O forte abraço que deu (ou recebeu) a Jerónimo de Sousa marcou a chegada da comitiva da campanha às minas da Urgeiriça e fez transparecer a ideia de uma total reconciliação. O deputado, que deixou o Parlamento no último ano da Legislatura, expressando dúvidas sobre a estratégia do partido de manutenção da geringonça, tem uma tarefa ciclópica. Se conseguir uma eleição, ganha uma medalha histórica. Mas mais fácil parece fazer passar um camelo pelo buraco de uma agulha, do que ver um deputado comunista eleito pelo círculo de Viseu.
"Isto aqui é muito tristinho", disse a única senhora que, às 11 horas aguardava no apeadeiro Canas-Felgueira, o único comboio que passa de manhã por aquelas paragens. Bastaram poucos minutos, para se lhe acabar o sossego. Jerónimo de Sousa, a comitiva comunista e o batalhão de jornalistas e câmaras que acompanham o campanha da CDU na recta final das Legislativas invadiram o apeadeiro de Canas de Senhorim. Entraram com a senhora, de rompante, usando a mesma porta da mesma carruagem, interrompendo a calma reinante e costumeira do comboio para Coimbra B.
O que vale é que foi uma passagem rápida. Três minutos depois, já a comitiva política e a campanha das legislativas, desaguava no apeadeiro seguinte, deixando os passageiros, no sonolento rame rame do costume, pregados às janelas a tentar perceber o que se tinha passado.
O dia de Jerónimo de Sousa foi isso mesmo. Uma passagem rápida, por três distritos onde os comunistas raramente conseguiram eleger um deputado que fosse. Em Viseu, distrito a que pertence Canas de Senhorim, levar um deputado do PCP a sentar-se no Parlamento foi mesmo coisa nunca vista em toda a história da democracia.
"Nós nunca perdemos a perspectiva de que é possível eleger um deputado", diz o líder comunista logo no arranque do dia. Miguel Tiago recebeu o encargo de ser cabeça de lista por Viseu e, embora esteja há meses no distrito a fazer campanha, os progresso são pequenos e difíceis de localizar. Jerónimo ainda tenta dizer que "há uma mudança significativa", que o "nosso camarada Miguel Tiago encontrou grande apoio nos jovens", mas continua difícil de vislumbrar qualquer eleitor que se encaixe naquela classificação etária. Pelo menos a avaliar pelo pequeno grupo que se juntou para saudar o líder comunista, os jovens pecaram por falta de comparência.
"Agora podemos andar em qualquer sítio de Viseu que o nosso trabalho é reconhecido", diz Jerónimo. Miguel Tiago reconhece não ter sentido "qualquer problema ou animosidade" junto da população. Mas, o prémio é pequeno e o objetivo continua muito longínquo. "Admito que é difícil", assume.
"Díficil" ou "não é fácil" , foram os termos usados também nas outras etapas do dia, que mais pareceram uma prova de montanha para a comitiva comunista. Em Aveiro, Miguel Viegas já foi eurodeputado e candidato à Câmara local. Agora é cabeça de lista por um círculo onde o partido "identificou como altamente possível a eleição de um deputado". Nas últimas eleições, foram 2 mil os votos que faltaram para o PCP lançar uma lança no Parlamento, mas as coisas não melhoraram de então para cá.
Ao fim do dia, o comício na praça do mercado (um local de passagem onde muitos aveirenses pararam a ver o líder comunista) estava morno e sem ânimo. "Isto não vai ser fácil", acabaria o próprio cabeça de lista por reconhecer aos militantes que o ouviam, sem direito a muitas palmas ou manifestações de grande entusiasmo.
Em Coimbra, Jerónimo fez o discurso mais rápido de toda a campanha. Elencou os "avanços" alcançados à custa do esforço comunista na última Legislatura em 13 minutos, sem direito a improvisos, à partes ou mesmo aos tradicionais provérbios. No final, até a apresentadora do comício parecia ter pressa em acabar com a campanha. "Vamos embora. Comício encerrado e vamos ao trabalho".
Um dia "tristinho", como dizia a passageira do comboio de Canas-Felgueira para Coimbra B. A campanha segue para melhores paragens. E, espera-se, sem confusões. Como aquela cometida por um jovem que, em Aveiro, fez questão de telefonar à avó, gritando em pleno comício da CDU que "está aqui o Rui Rio". Desligou, sem resolver o equívoco.