Legislativas 2019

Entre bombos e minhotos, Rio deixou uma promessa: “No domingo vamos ser o Famalicão”

No dia em que teve o seu primeiro grande comício desta campanha, o líder social-democrata deixou-se contagiar pelos ares minhotos, atacou o PS “Dono Disto Tudo” e prometeu a vitória a mais de 2.500 militantes

RUI DUARTE SILVA

O momento do dia:

Rio a despedir-se da Quinta da Malafaia a tocar bombo depois do primeiro grande discurso desta campanha eleitoral. Os sociais-democratas começam a acreditar que é possível, pelo menos, disputar as eleições e isso começa a notar-se na campanha do presidente do PSD.

A frase:

"F*da-se, ‘tá tudo aqui, car*lho!?"
Autora anónima

O personagem:

O senhor do micro que pontuou o discurso de Rui Rio com estrofes à medida da Quinta da Malafaia. Não há memória na política portuguesa: sempre que o líder social-democrata dizia uma frase mais forte não se ouviam aplausos, nem gritos de “PSD!”. O senhor do micro tomou conta das pausas dramáticas. “Com Rui Rio a liderar, Portugal vai avançar” ou “Com Rui Rio a liderar, Portugal nunca mais será igual”; ou ainda “Por mim, por ti, por nós, Rui Rio será a nossa voz”, são apenas alguns exemplos. Tudo gritado ao bom estilo minhoto. Entreguem-lhe já um Globo de Ouro para melhor speaker

A fotografia:

Rui Rio em Viana do Castelo
RUI DUARTE SILVA

Valeu tudo menos tirar olhos. No seu primeiro grande comício da campanha, na Quinta da Malafaia, Rui Rio deixou Tancos para trás mas levou o arsenal todo: ele foi comparações entre José Sócrates e António Costa, ele foi marcação cerrada a Carlos César, ele foi “caos na Saúde” responsabilidade de Mário Centeno, ele foi familygate e um PS que se comporta como o “Dono Disto Tudo”, ele foi ataques diretos ao primeiro-ministro… Deu para tudo.

Foi um arraial de política à moda antiga, a tal que Rui Rio tem rejeitado desde o início desta campanha. "Com José Sócrates foi um descalabro nas finanças públicas. Com António Costa foi um descalabro nos serviços públicos”. E virou! “Em quatro anos, a Proteção Civil teve cinco comandantes nacionais. Demonstra a falta de capacidade para gerir a Proteção Civil”. E virou! “Quando o PS tem maioria, comporta-se como Dono Disto Tudo, pulverizando o Estado com boys e girls do PS. E agora alargou-o à própria família”. E virou! “Carlos César é campeão a conseguir meter os seus familiares nos órgãos públicos”. E virou! “António Costa não domina minimamente os números das finanças públicas e da economia portuguesa.”

Com Rio a bater à desgarrada em pouco mais de 20 minutos, houve espaço para tudo até para uma metáfora futebolística. “No domingo [eleitoral] vamos ser o Famalicão”, prometeu o líder social-democrata para a euforia de mais de 2.500 militantes e simpatizantes já bem regados a vinho verde, tinto e sangria. E à falta de bateria, Rio jogou com o pé que estava mais à mão e despediu-se da Quinta da Malafaia a bater no bombo. Para quem partiu para estas eleições como underdog, os ares minhotos (e os das sondagens) fazem maravilhas.

O entusiasmo não era grande em Barcelos
RUI DUARTE SILVA

Se a noite foi de festa, a tarde teve dois momentos diferentes. Primeiro, o ato falhado. Rui Rio foi até Barcelos, terra que costuma receber bem, e foi fraquinho, fraquinho, fraquinho… Se há algo que tem ficado evidente nesta campanha eleitoral (pelo menos na de Rio) é que há pouca gente receptiva à ideia de aguentar jotinhas aos gritos, bandeiras e bandeirinhas, lápis e autocolantes. Se a isto for somado o contexto (segunda-feira, 15 horas) e o modo de desabrido de ser minhoto está dada a receita do (in)sucesso.

“Estes filhos da p*ta são todos iguais. Uns têm uma cor outros têm outra. Ao menos o nosso presidente da Junta dá camisolas, f*da-se”, ouvia-se a partir dos bancos de jardim, bancadas com vista privilegiada para a passagem da caravana. E logo sobre Rio, homem com ligação íntima à terra, ao ponto de ter confessado, no café Senhor da Cruz, que “quase podia ser taxista aqui”. Em Barcelos antes taxista do que candidato a primeiro-ministro.

Em Viana do Castelo foi diferente. Desta vez, a máquina partidária não brincou em serviço. À falta de gente nas ruas, à falta de paciência do comum dos transeuntes (“f*da-se, ‘tá tudo aqui, car*alho?”), à falta de talento do candidato para fazer mais do que trocar palavras de circunstância, o aparelho respondeu com uma estratégia que vem nos livros: enfiou uma centena de militantes e simpatizantes na estreita Rua Manuel Espregueira, juntou-lhe bombos e ganhou o dia. Rio até se deu ao luxo de subir à varanda, para gáudio da multidão.

Um número perfeito apesar do líder: quando a gente laranja começou a gritar “Vitória! Vitória! Vitória!”, Rio deixou a varanda e regressou ao interior. Perdeu-se o momento, mas não foi grave: ao sétimo dia de campanha, Rio teve a sua primeira grande enchente; faltam três grandes comícios para mostrar força, Viseu, Porto e Lisboa.