O momento do dia:
Rio a despedir-se da Quinta da Malafaia a tocar bombo depois do primeiro grande discurso desta campanha eleitoral. Os sociais-democratas começam a acreditar que é possível, pelo menos, disputar as eleições e isso começa a notar-se na campanha do presidente do PSD.
A frase:
"F*da-se, ‘tá tudo aqui, car*lho!?"
Autora anónima
O personagem:
O senhor do micro que pontuou o discurso de Rui Rio com estrofes à medida da Quinta da Malafaia. Não há memória na política portuguesa: sempre que o líder social-democrata dizia uma frase mais forte não se ouviam aplausos, nem gritos de “PSD!”. O senhor do micro tomou conta das pausas dramáticas. “Com Rui Rio a liderar, Portugal vai avançar” ou “Com Rui Rio a liderar, Portugal nunca mais será igual”; ou ainda “Por mim, por ti, por nós, Rui Rio será a nossa voz”, são apenas alguns exemplos. Tudo gritado ao bom estilo minhoto. Entreguem-lhe já um Globo de Ouro para melhor speaker
A fotografia:
Valeu tudo menos tirar olhos. No seu primeiro grande comício da campanha, na Quinta da Malafaia, Rui Rio deixou Tancos para trás mas levou o arsenal todo: ele foi comparações entre José Sócrates e António Costa, ele foi marcação cerrada a Carlos César, ele foi “caos na Saúde” responsabilidade de Mário Centeno, ele foi familygate e um PS que se comporta como o “Dono Disto Tudo”, ele foi ataques diretos ao primeiro-ministro… Deu para tudo.
Foi um arraial de política à moda antiga, a tal que Rui Rio tem rejeitado desde o início desta campanha. "Com José Sócrates foi um descalabro nas finanças públicas. Com António Costa foi um descalabro nos serviços públicos”. E virou! “Em quatro anos, a Proteção Civil teve cinco comandantes nacionais. Demonstra a falta de capacidade para gerir a Proteção Civil”. E virou! “Quando o PS tem maioria, comporta-se como Dono Disto Tudo, pulverizando o Estado com boys e girls do PS. E agora alargou-o à própria família”. E virou! “Carlos César é campeão a conseguir meter os seus familiares nos órgãos públicos”. E virou! “António Costa não domina minimamente os números das finanças públicas e da economia portuguesa.”
Com Rio a bater à desgarrada em pouco mais de 20 minutos, houve espaço para tudo até para uma metáfora futebolística. “No domingo [eleitoral] vamos ser o Famalicão”, prometeu o líder social-democrata para a euforia de mais de 2.500 militantes e simpatizantes já bem regados a vinho verde, tinto e sangria. E à falta de bateria, Rio jogou com o pé que estava mais à mão e despediu-se da Quinta da Malafaia a bater no bombo. Para quem partiu para estas eleições como underdog, os ares minhotos (e os das sondagens) fazem maravilhas.
Se a noite foi de festa, a tarde teve dois momentos diferentes. Primeiro, o ato falhado. Rui Rio foi até Barcelos, terra que costuma receber bem, e foi fraquinho, fraquinho, fraquinho… Se há algo que tem ficado evidente nesta campanha eleitoral (pelo menos na de Rio) é que há pouca gente receptiva à ideia de aguentar jotinhas aos gritos, bandeiras e bandeirinhas, lápis e autocolantes. Se a isto for somado o contexto (segunda-feira, 15 horas) e o modo de desabrido de ser minhoto está dada a receita do (in)sucesso.
“Estes filhos da p*ta são todos iguais. Uns têm uma cor outros têm outra. Ao menos o nosso presidente da Junta dá camisolas, f*da-se”, ouvia-se a partir dos bancos de jardim, bancadas com vista privilegiada para a passagem da caravana. E logo sobre Rio, homem com ligação íntima à terra, ao ponto de ter confessado, no café Senhor da Cruz, que “quase podia ser taxista aqui”. Em Barcelos antes taxista do que candidato a primeiro-ministro.
Em Viana do Castelo foi diferente. Desta vez, a máquina partidária não brincou em serviço. À falta de gente nas ruas, à falta de paciência do comum dos transeuntes (“f*da-se, ‘tá tudo aqui, car*alho?”), à falta de talento do candidato para fazer mais do que trocar palavras de circunstância, o aparelho respondeu com uma estratégia que vem nos livros: enfiou uma centena de militantes e simpatizantes na estreita Rua Manuel Espregueira, juntou-lhe bombos e ganhou o dia. Rio até se deu ao luxo de subir à varanda, para gáudio da multidão.
Um número perfeito apesar do líder: quando a gente laranja começou a gritar “Vitória! Vitória! Vitória!”, Rio deixou a varanda e regressou ao interior. Perdeu-se o momento, mas não foi grave: ao sétimo dia de campanha, Rio teve a sua primeira grande enchente; faltam três grandes comícios para mostrar força, Viseu, Porto e Lisboa.