Legislativas 2019

Cristas festeja o aniversário com cachupa e Cesária Évora

E ao quinto dia vimos Cristas a dar um tímido pezinho de dança ao som de Cesária Évora e a comer bolo numa associação caboverdiana. Foi ali que ouviu lamentos sobre “a ascensão do marxismo cultural”. E defendeu a “integração”

NUNO BOTELHO

“Seja bem vinda aqui ao bairro!”. Quando Assunção Cristas entra pela porta, nos pratos já só se encontram os restos de mandioca, carnes, chouriço e couve que minutos antes compunham uma saborosa cachupa. Nas paredes, a traços grossos, desenhos de palmeiras, areia e sol ilustram o espaço do restaurante oeirense em que a Associação Pombal XXI, cabo-verdiana, decidiu receber a presidente do CDS.

Não é um dia qualquer: politicamente, em primeiro lugar, porque Cristas acaba de jogar a maior cartada da sua campanha, anunciando que o CDS avança para nova comissão parlamentar de inquérito a Tancos e que quer o Ministério Público a investigar as declarações de António Costa sobre o caso. Mas aqui o motivo da festa tem a ver com um assunto tudo menos político: Assunção faz este sábado, em plena campanha, 45 anos. Já há quatro anos passou o aniversário em campanha, aliás - tem sempre "festas grandes", cheias de gente como esta, porque fazer anos a 28 de setembro implica ceder à agenda política.

No restaurante onde já chega tarde para almoçar - de qualquer das formas, passou em casa para receber um beijo de parabéns dos pais - circula pela cozinha e encontra a dona do espaço. “Empreendedora”, abriu-o em 2013, tempo de crise, de troika e também do Governo de Passos Coelho que Assunção Cristas integrou. “Coragem!”, resume a centrista, que aproveitará minutos mais tarde uma breve visita ao cabeleireiro da porta do lado para louvar mais um bom exemplo de “iniciativa privada”.

NUNO BOTELHO

A visita à comunidade caboverdiana, explica, mostra-lhe que “a força do CDS está a alargar-se e a convocar cada vez mais pessoas”, sobretudo aquelas que “querem progredir na vida”. Não sabemos se será bem assim - os votos, como diria Cristas, só entram nas urnas dia 6 de outubro - mas durante a visita é recebida de forma afável e defende a necessidade de “sem fazer distinção” dar, ainda assim, “uma palavra de reforço, acolhimento e integração”.

De José Luís Tavares, presidente da associação, ouve queixas sobre o acesso aos infantários - área para a qual o CDS propõe a contratualização com privados e setor social - e a especulação imobiliária que atinge Oeiras e “afugenta jovens casais de ter a ambição de construir uma família”.

É quando o responsável, já embalado, se lança em considerações sobre o problema da “ascensão do marxismo cultural dentro da sociedade”, que leva à “perda de autoridade de instituições que garantem o nosso bem estar, como a PSP”, e acaba a dar-nos “a impressão de que estamos aqui a chegar a um Brasil quase pré-Bolsonaro”, que começa a ouvir-se um pequeno murmúrio.

Primeiro baixinho, depois mais alto, distingue-se a letra e a melodia de “Sodade”, de Cesária Évora. E Cristas, a aniversariante que depois destes 45 anos pede “mais 45”, não nega o pezinho de dança quando é desafiada. Lentamente, com um dos senhores presentes, dança diante do cenário das palmeiras, uns segundos tímidos em que são incentivados por um casal mais desenvolto, ao lado, que dança com ar sabedor.

Antes de seguir para a esquadra da PSP da Amadora, há brinde - “ai, não me dês banho”, pede Cristas, ainda escaldada do banho de espuma com que a surpreenderam há dias, em visita às caves da Murganheira. Desta vez não há surpresas exceto o bolo, e há desejos de que o CDS tenha “um bom resultado”. No dia seis verá se há razões para abrir champanhe.