Ainda não eram conhecidos pormenores da acusação no caso de Tancos quando a líder do Bloco de Esquerda falou nesta campanha pela segunda vez sobre o tema, em dias consecutivos. "É a Justiça que deve fazer o seu trabalho. Para o Bloco não é um tema de campanha eleitoral", afirmou Catarina Martins, na manhã desta quinta-feira, numa viagem de comboio entre Faro e Lisboa. "Que a justiça faça o seu caminho", salientou.
Na altura em que falou aos jornalistas ainda se desconhecia oficialmente que o ex-ministro Azeredo Lopes foi acusado dos crimes de denegação de justiça, prevaricação e abuso de poder.
Em todo o caso, sublinhou Catarina Martins,, "em Portugal ninguém está acima da lei e a justiça deve fazer o seu trabalho, apurar todas as responsabilidades e todas as consequências", defendeu.
Ao endossar um eventual comentário do Bloco para os tempos da Justiça, Catarina Martins não disse, no entanto, qual será fase do processo judicial em que isso acontecerá. Nem mesmo quando lhe foi perguntado se o momento seria o da acusação ou o de uma sentença transitada em julgado.
Questionada dessa forma, a líder do Bloco optou por responder ao lado:"Como digo, este é um problema que não vem de agora; tem um tempo longo, talvez até longo demais. Não me parece que ajude ninguém que, em período de campanha eleitoral, um processo que é longo seja utilizado nessa mesma campanha, quando não conhecemos os dados todos".
Face à insistência da comunicação social que faz a cobertura da sua campanha, Catarina Martins afirmou que tendo um "enorme respeito pelo trabalho de investigação que é feito pelos jornalistas e achando esse muito importante", também sabe "muitas vezes como as fugas do segredo de justiça podem ser parciais". "Nós não sabemos. E sobre o que não sabemos não nos vamos pronunciar", rematou.
O comboio para travar o despovoamento do interior
As declarações de Catarina Martins foram proferidas a bordo do Inter-cidades nº 670, que fez a ligação entre Faro e Lisboa. Cerca de três de horas e meia de viagem, durante a qual, numa breve ida ao bar, Catarina falou ainda com alguns passageiros. Entre duas senhoras que viajavam lado a lado, a conclusão parecia ser uma: o problema maior na CP são os horários, nem sempre cumpridos, e também o número reduzido de comboios. Já "os preços, se os comparamos com outros países, são muito acessíveis", disse uma das passageiras.
A opção pelo modo ferroviário para deslocar os candidatos do Bloco e os jornalistas (no total, foram reservados 32 lugares, na carruagem 23),é uma forma de o Bloco sinalizar a importância de um novo plano ferroviário nacional, que o partido projeta para o horizonte 2040. Nessa altura, nos propósitos do BE, estariam feitas as ligações devidas entre todas as capitais de distrito, seria garantida melhor mobilidade nas áreas metropolitanas (também com a expansão da rede de metro) e o interior deixaria de ser um simples lugar de passagem ("Garantir que o interior não é uma ponte entre portos e Espanha", disse Catarina).
O Bloco afetaria a esse plano 800 milhões de euros por ano, "menos do que colocamos anualmente no Novo Banco", ressalvou a líder do Bloco.
Com tal infraestrutura, a percentagem de passageiros e de mercadorias transportados por ferrovia fora das áreas urbanas daria um salto de gigante: de 5% para 40%.
Não irá a carroça à frente dos bois, fez questão de inquirir um jornalista - lembrando que uma das críticas ao plano do Bloco é que pretende levar os comboios onde não há pessoas em número suficiente?
A resposta de Catarina Martins saiu assim à velocidade de um TGV: "Cada vez que se fecha um serviço público por estar numa zona despovoada, esse despovoamento faz-se mais depressa".