Legislativas 2019

Jerónimo assume: "Está difícil isto, pois está"

Ninguém baixa a guarda na campanha eleitoral, mas as coisas não estão fáceis. Por duas vezes, nas últimas 24 horas, o líder comunista repetiu que "isto está difícil". E "isto" é a batalha eleitoral. Com os antigos parceiros a abocanharem muitas das coroas de glória da última legislatura, resta a Jerónimo de Sousa entrar na guerra sobre a paternidade da 'geringonça'. "Foi, de facto, o PCP", disse e até recuou ao momento da concepção.

Jerónimo de Sousa até tinha evitado entrar na guerra de quem foi o pai da criança. "Eu não me queria meter nisto", dizia há poucos dias. Mas, com a 'geringonça' a ser disputada entre Catarina Martins e António Costa, e, sobretudo, com Bloco e PS a tentarem apagar a marca genética comunista de muitas das conquistas o líder comunista não teve outro remédio senão entrar com o processo de reconhecimento de paternidade da 'criança política'.

A política tem destas coisas e foi na Vidigueira, num almoço com apoiantes realizado no mercado municipal, que o líder comunista acabou por fazer a revelação biográfica. Bem podem os parceiros recentes do PCP no Parlamento reivindicar os principais talentos da 'geringonça' - aumentos de pensões, manuais escolares gratuitos, devolução do subsídio de natal e tantas outras proezas - ou dizer que nas áreas sociais e económicas, a 'criança' tem mais parecenças, ora com o BE, ora com o PS. Jerónimo de Sousa chegou-se à frente e tentou arrumar a questão. "Foi de facto o PCP, e também Os Verdes, quem afirmou que era possível", disse. Depois de um cozido alentejano bem servido, todos na sala ficaram a saber que "foi naquela noite eleitoral", de 5 de outubro de 2015 que tudo começou.

Na altura, quando ainda o PSD e o CDS "reclamavam vitória", Jerónimo disse que "o PS só não formaria Governo se não quisesse" e isso foi ""o inicial de um caminho". Se não fosse a proposta comunista, não haveria parto da solução, deduz o líder comunista. Mas o problema é que os tempos mudaram e, com uma maioria absoluta a deslumbrar o PS, o PCP está a ser posto para trás. Jerónimo não gosta de desfeitas. Ninguém gosta. "Um amigo socialista disse-me ainda hoje que 'eles' não se andam a portar bem", confessou o líder comunista. 'Eles' são os socialistas, agora a pôr de lado o retrato de família da 'geringonça'. E até se atrevem a "encanzinar as medidas" que tinham combinado, lembra. "Com medidas mesquinhas das Finanças, querem impedir as crianças de receber um livro novo para a escola", critica Jerónimo.

O divórcio parece pouco amigável. Tanto mais, quanto o PCP parece ser o elo mais fraco neste processo. A campanha corre dentro do previsto, mas sem banhos de multidão ou momentos de apoteose. Jerónimo puxa pela sua dama, elogia a sua "honestidade, seriedade, competência", mas teme que o jogo eleitoral esteja viciado.

Nos últimos dias, Jerónimo carregou nas tintas. Assume que a "batalha é grande" e que "as coisas não são fáceis". Esta tarde, em terreno favorável e debaixo do calor alentejano, voltou à carga. "A CDU faz falta, sim. E não é nós termos mais um ou menos um deputado, para mostrar. Não é isso", disse aos camaradas que o ouviam depois do almoço. O que o líder pretende é travar os socialistas, porque "se o PS puder decidir sozinho, iriamos ter outra vez retrocessos no plano social e económico". O divórcio ainda não está consumado. Resta a esperança de um arrependimento. Nem que seja por falta de alternativa.