Legislativas 2019

Rio sobre Tancos: “É leviano envolver o Presidente numa polémica destas”

Sobre Costa, no entanto, Rio dá explicações sobre a insinuação que fez ontem. Apesar de explicar que não se referia ao caso de Tancos, o líder do PSD mantém a tese: aflito com as sondagens, o líder do PS está a preparar um golpe de teatro. No Alentejo, repetiram-se as denúncias às “manipulações” das sondagens e as críticas aos “hipócritas” do partido. Mas sempre sem nomes

Rui Duarte Silva

Afinal, era tudo em sentido figurado. Na noite de terça-feira, Rui Rio aproveitou a ação de campanha em Faro para insinuar que o Governo preparava, mais dia menos dia, uma nova “encenação” semelhante à crise dos professores ou dos motoristas. A conclusão foi imediata: o líder do PSD referia-se ao caso Tancos, cuja acusação do Ministério Público será conhecida em breve (centrada, precisamente, na tese da encenação). Menos de 24 horas depois, no entanto, o social-democrata veio esclarecer: foi apenas e só um exercício retórico.

Nada que fizesse Rio retirar uma vírgula ao que dissera. “O líder do PS já nos habituou a, em momentos especiais, a dar um espetáculo. Como a campanha não lhe está a correr de feição, estou à espera que montem uma encenação qualquer mais dia ou menos dia”, reforçou Rio à margem do almoço com um empresários na Vidigueira. Ficou desfeito o mistério.

Ainda a propósito do caso e das notícias que falam sobre um alegado envolvimento do Presidente da República na trama, Rio fez questão de defender Marcelo Rebelo de Sousa. “Temos de ter muito cuidado. É leviano envolver o Presidente da República numa polémica destas”, salvaguardou o social-democrata.

“Estou a subir? Estamos a subir. O PS está a descer? Tenho a certeza”

Seguiu-se depois mais uma sessão de luta corpo a corpo contra as sondagens e os críticos internos e externos, com muitas acusações de manipulação e mentiras, mas sempre sem rostos ou nomes.

“Alguma vez o PSD teve 19% das intenções de voto? É tudo relativamente fabricado para produzir no PSD a desmoralização e para produzir no PS a moralização. Agora, [com sondagens menos negativas] confiro a mesma credibilidade: pouco ou nenhuma. Há uma coisa que eu sinto e não tenho dúvida nenhuma: o PSD está a subir e o PS a descer um bocado. Estou a subir? Estamos a subir. O PS está a descer? Tenho a certeza”, disse Rio, antes de fazer uma referência subtil às notícias que dão conta do desconforto da direção do PSD com o convite que a líder da JSD, Margarida Balseiro Lopes, fez a figuras como Luís Marques Mendes ou Hugo Soares para entrarem na campanha:

“Com toda a sinceridade, alguém que durante um ano e tal andou a procurar destruir-me por dentro do partido chegar à última hora e aparecer a dizer que dá um grande apoio acho que é um situação hipócrita”. E quem são esses hipócritas? “Não lhe vou dar nomes nenhuns, como é lógico”, disparou Rio. Assunto encerrado. Para já, pelo menos.

Bater sem ser provocado

Rio tem dito e repetido que não fala sobre questões internas do partido. Mas, volta e meia, não resiste. No final do almoço de confraternização, a que a carne de porco à alentejana não faltou, Rio brindou os presentes com algumas palavras de circunstância e mais umas críticas para os seus adversários no partido — por livre e espontânea vontade, acrescente-se.

À boleia de um elogio a Henrique Silvestre Ferreira, o cabeça de lista por Beja, o líder social-democrata deu um passo em frente. “[O Henrique apareceu] sem tiques, sem manhas. É jovem mas já tem trabalho” ao contrário dos que têm “muita experiência de aparelho e pouca experiência na vida”, provocou o social-democrata.

Minutos depois, seria interpelado por um jovem agricultor que teve uma daquelas saídas capaz de gelar a sala. "Não tenho empatia com o presidente do PSD". Faltava a segunda parte da frase: "Mas tenho particular empatia por Rui Rio, candidato a primeiro-ministro”.

Na resposta, Rio voltou a dizer-se vítima de um complô. "O presidente do PSD é o mesmo que é candidato a primeiro-ministro. É o mesmo que esteve 12 anos na Câmara do Porto. A questão é haver condições para as pessoas verem exatamente de quem se trata. E não haver estratégias para tapar, para esconder de tal maneira [o que sou]", disse.

O resto da sessão decorreu sem notas dignas de reportagem e um Rio sem se comprometer com soluções concretas para os problemas concretos do Baixo Alentejo.

15 minutos de rua e sem totoloto

A manhã foi dedicada ao primeiro “contacto com a população” de Rui Rio neste período oficial de campanha. Foram sensivelmente 450 metros de contacto no centro de Beja, meia dúzia de palavras trocadas com a dita população (a que havia na rua antes das 10 da manhã), uns quinze minutos em intensidade baixa com paragem para cafézinho e… acabou. Provavelmente para desânimo dos jotinhas, que já davam tudo no megafone. “Vamos acabar com esta bandalheira / Tachinho para o pai / Tachinho para a filha / E para a família inteiraaa” ou “Ele é o mestre da culináaria / Cozinha para a Cristina / Cativando na ferroviaa / E levando um país à bolina”. Nota 10 para a entrega, louvor para a originalidade, mas a métrica ainda tem de ser trabalhada.

Quanto ao líder do PSD, acompanhado por David Justino, Maló de Abreu e José Silvano, ainda ensaiou uma tentativa de jogar no Totoloto (‘euromilhões não, que é muito dinheiro e não precisa de tanto, explicou o próprio) mas resistiu à tentação. Da rua Rio foi diretamente para cadeira do improvisado estúdio da TSF e o por lá ficou. À tarde, há mais: um passeio de barco no Alqueva, mais contacto com a população em Évora e um sunset “Terraza Drinks & Co.