Legislativas 2019

Rio sem talk, mas com tunas e Toy. E uma garantia: “Posso cair. Mas quando caio, caio de pé”

Numa campanha em que o líder se tem esforçado por desvalorizar as sondagens, Rui Rio acabou o segundo dia a falar em "resultado honroso" e a garantir que cairia sempre de pé. À falta de novidades políticas, falou-se de críticos internos e de Mário Centeno

RUI DUARTE SILVA

O momento do dia:

O after hours do sunset do Terraza Drinks & Co. Depois do cante alentejano, as declarações sobre o resultado possível do PSD a 6 de outubro marcaram o dia do líder social-democrata.

A frase:

“Sei que vamos ter um resultado honroso, mas o mais honroso seria a vitória"
Rui Rio, líder do PSD

O personagem:

Os "hipócritas", os "adversários internos e externos", os que "manipulam" e "fabricam" sondagens... Rui Rio dedicou o segundo dia de campanha a lutar contra homens e mulheres sem nome e sem rosto. Sem nome e sem rosto por vontade de Rio, que nunca concretizou as acusações.

A fotografia:

Rui Rio durante a viagem de barco no Alqueva
RUI DUARTE SILVA

O momento político de Rui Rio acabou por chegar à 25ª hora. No final do sunset que encerrou o segundo dia de campanha oficial, precedido de um momento de cante alentejano e quando não estavam previstas sequer declarações, o líder social-democrata deixou cair uma frase que é, em si mesma, todo um programa. “Sei que vamos ter um resultado honroso, mas o mais honroso seria a vitória. Posso cair, mas quando caio, caio de pé”, disse.

O comentário surgiu a propósito da evolução nas sondagens, que agora parecem menos negativas para o PSD. As mesmas sondagens que Rio já tinha apoucado durante a manhã e que apoucará até ao dia das eleições. Mas, por muito que o líder social-democrata se esforce por desvalorizar os prognósticos, as sondagens (sobretudo estas últimas) estão na cabeça de todos os que acompanham Rio na estrada: apesar delas, ainda é preciso acreditar na vitória.

É esse o estado de espírito das bases. Não há jantares-comício, não há arruadas pomposas, nem tão pouco notáveis a aparecer para ajudar o líder. Mas há pimba. Em deferido, é certo, mas há pimba. António Manuel Neves Ferrão, nome de batismo de Toy, não se juntou à campanha de Rui Rio, mas a obra do cantautor setubalense vai inspirando por estes dias a comitiva que acompanha o líder social-democrata levando a mensagem que é preciso passar. Atente-se à letra, imagine-se o som de “Coração Não Tem Idade” e os cânticos dos jotinhas amplificados pelo megafone. “Anima-te / Motiva-te / Não ligues às sondagens, tens uma vitória para conquistar / Anima-te / Motiva-te / Não há nada melhor do que correr o país para te apoiar / Vais ganhar / É real / Governar o nosso Portugal / Vai Rui Rio / Vai Rui Riooo”.

Foi esta a banda sonora da primeira mini-arruada do líder social-democrata neste período oficial de campanha. Uma mini-arruada no centro histórico de Évora em que Rio distribuiu uns quantos lápis, ensaiou o portunhol para tentar convencer um eleitor a votar Pablo Casado, ouviu a tuna académica (como é da praxe) e ousou q.b. (“grande bigode, já não se fazem homens assim”). Mas foi a conversa discreta que manteve com um popular que sintetiza a coisa: “Não desista…”, disse-lhe.“Desistir, eu? Só desisti uma vez de uma frequência e depois fui a exame”, respondeu Rio.

O social-democrata quer afastar a todo o custo a ideia de que, nesta campanha, é o náufrago à espera de um milagre. “Aqui é que está o homem do leme”, chegou a dizer durante a viagem de barco no Alqueva. Mas a tal campanha original que o PSD quer imprimir nestas legislativas tem falhado em criar uma dinâmica vencedora.

A aposta é na transmissão da mensagem e Rio não se desvia um milímetro dessa estratégia. Quando há mensagem. Na terça-feira, houve sessão de esclarecimento (“talk”, no léxico do PSD) e alguma política. Hoje, quarta-feira, nem por isso. Rio falou mais para dentro do que para fora, mais para os seus adversários internos do que para os tais eleitores indecisos que o líder social-democrata tanto ambiciona. Aliás, foi aos seus adversários internos que Rio dedicou as palavras mais duras do dia, os mesmos que são “hipócritas” por aparecerem agora e os que têm nos “tiques” e “manhas” de aparelho partidário o que lhes falta em “experiência de vida”.

Para lá de uma frase sobre política de imigração e algumas ideias (não concretizadas) sobre as desigualdades territoriais no Alentejo, não houve política na campanha de Rio. Houve combate político, sim, não com António Costa, mas com Mário Centeno. “Ainda o dr. Mário Centeno não era nascido para a política e já eu travava uma luta desde sempre pelo rigor nas finanças públicas”, respondeu a propósito da rábula protagonizada pelo ministro das Finanças sobre os "homenzinhos" do PSD. Sem mais.