Legislativas 2019

Cristas em Braga entre abraços, apelos aos indecisos e gritos antimarxistas

Cristas foi à rua num dos distritos em que o CDS arrisca perder representação. Bem recebida, arriscou convencer indecisos e colheu elogios em troca. Resta saber se se traduzem em votos

NUNO BOTELHO

- Este ano vou votar antecipadamente, mas ainda não sei em quem. As pessoas não gostam todas do amarelo ou do cor de laranja, não é?

- Então olhe, é mesmo para si que eu devo falar!

Cristas está de pé junto a uma mesa toda ocupada por um grupo de mulheres que petiscam e bebem café, aproveitando o quase pôr do sol no centro de Braga. Todas recetivas, todas simpáticas e sorridentes, todas asseguram que votam na centrista e no CDS. Uma exceção: a mulher que está de pé à sua frente e que não se deixa convencer. “É a única que não vota em si”, explica uma das companheiras, abanando a cabeça sem grande esperança na hipótese de conversão.

A líder do CDS localiza o seu alvo. E é dos simbólicos. Primeiro, porque está em Braga, um dos distritos em que os centristas conseguem sentar dois deputados e onde correm o risco de perder um. O segundo ponto decorre disso mesmo: é preciso apelar aos que ainda não se decidiram e evitar que potenciais eleitores fiquem em casa - o recurso à dramatização tem, aliás, atingido nos últimos dias o seu auge no discurso do CDS, que recorda os “perigos” de eleger um Parlamento dois terços à esquerda para tirar quem vota no centro-direita de casa.

A mulher vestida em padrão leopardo que lanchava com as amigas é, por isso, um alvo interessante para Cristas. O debate dura largos minutos: a centrista recorda-lhe a “bancarrota socialista”, explica que quer baixar impostos, pede-lhe que leia o seu programa. Depois de muita insistência, a interlocutora lá acede: vai, pelo menos, lê-lo com mais atenção. Um ponto para Cristas - falta saber se um voto também. Garantidos são os das restantes presentes, que lhe batem palmas enquanto se despede e lhe gritam elogios: “Ah mulher! É muito mais magra ao vivo!”.

A arruada de Cristas pelas ruas centrais de Braga é o primeiro verdadeiro momento de contacto com a população que tem esta terça-feira - de manhã tentou entregar flyers no Barreiro mas, fosse pela pressa dos transeuntes ou por mero desinteresse, ficou muitas vezes pela tentativa. E é a segunda incursão por um distrito sob o qual paira a ameaça de perda. Em Setúbal, fica em risco Nuno Magalhães, líder parlamentar; em Braga, só se garante a permanência do cabeça de lista, Telmo Correia.

NUNO BOTELHO

Os encontros em Braga são maioritariamente simpáticos: mal tenta começar o percurso, é agarrada, abraçada e beijada por um casal que não dá sinais de desistência, por muito que Cristas tente prosseguir. “Gosto tanto de si! Votei sempre CDS!”, assegura um senhor. “Ainda é mais bonita do que na televisão!”. A quem garante que sempre votou como “democrata-cristão”, Cristas e Telmo Correia insistem: “Não falhe desta”. Todos os votos contam, sobretudo em distritos de risco.

Por entre mais um contacto positivo com uma lusovenezuelana que se queixa das condições para quem volta do país latino e assegura o seu voto a Cristas (“Seguro que sí”), a centrista ainda conta com um abraço efusivo de uma senhora que começa por garantir que não quer “partidos marxistas” e acaba a tentar discutir História com uma líder apressada: “Foram os marxistas que provocaram a Primeira Guerra Mundial” (mais tarde, na arruada, um eco isolado - e indignado - irrompe e surpreende a comitiva: “Não mais Marx!”).

Se cada abraço e cada frase antiesquerda contasse nas urnas, Cristas poderia estar descansada, mas nem sempre a sondagem de rua resulta - e esta é a primeira arruada de duas semanas intensas. Agora, a ideia passa por tentar inverter a tendência de perda que as sondagens mostram. Mesmo até ao fim.