Legislativas 2019

Assunção foi jogar fora para tentar evitar “uma grande perda” no Parlamento

O Barreiro não será o terreno mais fértil para o CDS, mas é preciso segurar os votos que poderão servir para reeleger o líder parlamentar, por Setúbal. Esta manhã, Cristas atravessou o Tejo de barco e foi dar uma ajuda

NUNO BOTELHO

Quem chega ao terminal do Barreiro bem cedo, logo antes de que se comece a encher com o turbilhão de gente que vem de comboio, autocarro e barco, tem por paisagem uma série de cartazes políticos. Protagonistas: Catarina Martins e Jerónimo de Sousa, numa terra que sempre foi da esquerda - nas últimas autárquicas, passou das mãos do PCP para o PS - e em que o CDS tem registado percentagens particularmente baixas.

O que faz, então, com que quem chega veja também Assunção Cristas, ladeada de candidatos do seu partido, a entregar panfletos azuis a quem percorre apressado o terminal? É que Setúbal, distrito de que o Barreiro faz parte, tem por cabeça de lista Nuno Magalhães, atual líder parlamentar dos centristas. E Magalhães não tem a vida fácil: nos bastidores do partido, a preocupação com a elegibilidade do líder da bancada ouve-se cada vez mais alto. Em entrevista ao Expresso, este fim de semana, Cristas fazia questão de nomear o distrito como um daqueles em que é fundamental que os eleitores do CDS saiam de casa para votar - sob pena de oferecerem deputados a PS e BE e deixarem Magalhães apeado, o que seria "uma grande perda para o Parlamento", admitiu esta terça-feira no Fórum TSF.

Por isso, esta manhã, a comitiva do CDS distribui-se pelas cancelas dos vários transportes e concentra-se em (tentar) entregar panfletos a quem passa, com as suas promessas para a zona, entre elas a expansão do metro até Almada. Não é tarefa fácil: quem passa vai acelerado, não tem tempo para grandes conversas, a maioria dos transeuntes não mostra grande reação ao encontrar a comitiva do CDS. Mas o partido esforça-se.

NUNO BOTELHO

O CDS sabia que não viria exatamente para terreno favorável: nas últimas autárquicas e europeias, os centristas conseguiram sempre menos de 600 votos no Barreiro (1,6% nas primeiras, 2,1% nas segundas). Por isso, já é de registar a falta de mostras de hostilidade: há um único momento em que, enquanto Assunção Cristas fala aos jornalistas, uma senhora passa e a acusa de “não ter feito nada” enquanto esteve no Governo.

É o momento em que Cristas, que esta manhã chegou ao Barreiro de barco rodeada pelos candidatos da lista de Lisboa, usa para defender a sua proposta para abrir a travessia do Tejo à concorrência, passando a contar com os operadores privados. “Não se percebe que um serviço que não está a funcionar bem continue nas lógicas que tem tido até agora. O que é importante é que as pessoas tenham alternativa e tenham escolha. Objetivamente, o que existe é mau”, salienta.

E quanto aos passes sociais? A medida do Governo para a redução do preço tem sido popular, mas Cristas, sem “contestar” o seu objetivo, lança farpas sobre a sua execução: “O que é importante é garantir que além do passe [os utentes] têm transportes que podem usar”: E que as vantagens para utilizadores de transportes são abrangentes: “O país não é só Lisboa e Porto e é um país que António Costa desconhece”.

É o regresso a uma crítica que fez a Costa durante o debate a seis, na noite desta segunda-feira, e que irritou o primeiro-ministro (“O meu país não é feito [só] de herdades no Alentejo”, atirou Costa). O debate foi, aliás, uma oportunidade para Cristas voltar ao registo em que se apresentava normalmente nos debates quinzenais contra Costa, no Parlamento - mais assertivo, muito interventivo, fazendo questão de dominar e intervir em quase todos os temas. Faltam duas semanas para as eleições do tudo por tudo e importa acelerar nos debates e na rua - mesmo nos locais menos acolhedores.