A reentré política comunista fez-se, como de costume, na Festa do Avante. Mas, com as eleições à porta, "o tempo é curto" e, por isso, Jerónimo de Sousa foi direto ao assunto e assumiu que o PCP quer mesmo evitar a maioria absoluta do PS. A partir da Quinta da Atalaia. O objetivo eleitoral comunista ficou traçado. O recinto do palco principal da Festa do Avante estava cheio. Tal como o palco, propriamente dito, onde o comité central completo, os delegados das dezenas de representações internacionais e os cabeças de lista a todos os círculos eleitorais do País pela CDU, literalmente se acotovelavam para ouvir as palavras do líder comunista.
Jerónimo de Sousa falou durante 45 minutos. Nada de novo, porque a Festa do Avante é assim mesmo e é já seguro que o discurso do líder será longo. Mas foi logo aos seis minutos, que o secretário geral do PCP abriu fogo ao objetivo central e disparou diretamente para o alvo das eleições. Talvez porque "o tempo até às eleições é curto e o trabalho muito", Jerónimo de Sousa fez questão de falar diretamente para o seu eleitorado e não poupou esforços no apelo ao voto.
Do passado recente, das aproximações ao PS e da constituição da geringonça, nenhuma angústia ou arrependimento. "Valeu e vale a pena", disse Jerónimo de Sousa, que assume a paternidade de uma estratégia que permitiu "travar e vencer" uma batalha que permitiu "derrotar um Governo retrógrado". A vitória, porem, não foi fácil. "Foram quatro anos vencendo resistências internas e ameaças externas", disse, sem esclarecer exactamente de onde vieram os travões internos. Os inimigos de dentro ficam para depois, já os adversários externos têm bilhete de identidade assumido: "o grande capital e as forças políticas que o servem".
Crise? É o capital a defender o PS
O discurso alonga-se nas conquistas arrancadas ao PS, durante os anos da geringonça. Jerónimo enumerou quase uma a uma as "conquistas" ou os "avanços", mas com um objetivo político concreto. Mostrar que é preciso continuar o caminho político iniciado nesta legislatura, e, para isso, é preciso travar as ambições socialistas. Ou, por outras palavras, o objetivo passa por "não deixar o PS de mãos livres".
Antes, o secretário geral do PCP já tinha falado do "anúncio de novas crises" ou do "espantalho de falsos excesso" que começam a marcar o discurso dos socialistas. E aproveitou para desmontar a tese de António Costa de que é preciso cautelas porque "sabemos o que significa e o que querem com o discurso da crise e da tese dos excessos: querem marcar passo". E isso serviu para colar o PS, ao PSD e ao CDS e, mais e pior ainda, ao "grande capital". Jerónimo de Sousa não tem dúvidas: "os grandes interesses económicos querem duas coisas: a maioria absoluta do PS e tirar força à CDU".
Aos vinte e cinco minutos de discurso, o líder comunista chegou onde queria. "O voto na CDU conta, e conta bem, para impedir a maioria absoluta do PS", disse. E se o combate como PS é direto, politicamente, não se fecham portas ao futuro. "Nunca ficamos tolhidos pelas circunstâncias" e "não abandonamos os combates antes de os travar", avisou Jerónimo. Do palco da Quinta da Atalaia, com vista para o mar de gente que enche o comício, o PCP parece, de facto, um partido gigante. Nenhum outro consegue tanta afluência numa reentre. Talvez por isso Jerónimo termine o discurso com a garantia de uma "imensa confiança". Quer até aumentar o número de deputados que alcançou em 2015. Mas, seja qual for o resultado eleitoral que aí venha, os comunistas prometem não se deixar "tolher". E o que isso verdadeiramente significa só se ficará a saber na noite de 6 de outubro.