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União Europeia

Um barco com 700 pessoas afundou-se em 15 minutos na zona mais funda do Mediterrâneo. Porquê?

Não estava um mar bravo, o vento não era suficiente para fazer um barco virar. É possível que mais de 500 pessoas, neste momento desaparecidas na zona mais funda do Mediterrâneo, nunca mais venham a ser encontradas. O que é que realmente aconteceu à traineira que saiu da Líbia a 10 de junho e se afundou em 15 minutos a 80 quilómetros da costa de um país europeu? Os sobreviventes não reconhecem a tragédia como um acidente. A Guarda Costeira da Grécia diz que lançou uma grande missão de salvamento. Na última década morreram 26 mil pessoas neste mar. Hoje é o (triste) Dia Mundial dos Refugiados

MENELAOS MYRILLAS

Naufrágio: ondas enormes, ventos capazes de rasgar velas, trovões e chuvas que impedem a visão até dos objetos mais próximos. Nem sempre. Estas são imagens que os migrantes que viajavam na traineira que se afundou a 80 quilómetros de Pylos, no sul da Grécia, não testemunharam. As condições não estavam assim tão adversas, mas o barco estava a atravessar a zona mais profunda do Mediterrâneo quando a Frontex o avistou.

“Ouvi as notícias por volta das 11h00 na terça-feira. Não tínhamos certeza se o meu primo estava no barco ou não. Estivemos quatro horas a ler tudo o que ia saindo nas notícias, ainda que não fosse muito. Eu tinha uma ideia que ele estava a tentar fazer a viagem, porém nunca sabemos quando, essa decisão é do traficante, sempre, e os migrantes são basicamente reféns”.

“Fui até Liverpool e daí apanhei o primeiro voo para a Grécia. Queria saber se ele estava morto, vivo, se precisava de ajuda. Não disse nada à família dele porque não os quis preocupar. Eu mesmo não sabia nada, só que um navio afundou”.

“Não encontrei o meu primo, encontrei os seus amigos. E eles disseram-me que ele desmaiou cinco minutos antes de o barco se afundar e talvez seja por isso que ele não está aqui. Eles disseram que o tentaram acordar”.

Este é o relato, recolhido pela BBC, de Mohammed, um refugiado sírio de 23 anos a viver no Reino Unido desde 2018 e que viajou para a Grécia quando começou a aperceber-se que o barco que afundou dia 13 de junho podia ser aquele em que o seu primo havia embarcado, cinco dias antes, com pelo menos outras 700 pessoas. E foi. O primo de Mohammed, de 21 anos e que queria ser médico, está desaparecido. Ele e outras 500 pessoas, segundo estimativas do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados.