Rússia

Viúva de Alexei Navalny diz que laboratórios independentes provaram envenenamento mortal do marido

O opositor russo, de 47 anos, um dos principais críticos do Presidente russo, Vladimir Putin, morreu na prisão em fevereiro do ano passado

Yulia Navalnaya, viúva de Alexei Navalny
Lukas Barth/AFP via Getty Images

A viúva do líder da oposição russa Alexei Navalny afirmou hoje que o marido morreu envenenado, na sequência da confirmação por dois laboratórios diferentes depois de análises aos "restos biológicos" do ativista.

"Conseguimos transferir o material biológico de Alexei [Navalny] para o estrangeiro. Laboratórios de dois países diferentes realizaram análises. Estes laboratórios, independentes um do outro, concluíram que Alexei foi envenenado", escreveu Yulia Navalnaya numa mensagem publicada nas redes sociais e na qual exigiu que os resultados destes testes sejam tornados públicos.

O opositor russo, de 47 anos, um dos principais críticos do Presidente russo, Vladimir Putin, morreu na prisão em fevereiro do ano passado.

Navaly estava numa prisão no Ártico para cumprir uma pena de 19 anos sob "regime especial" e, segundo os serviços penitenciários, sentiu-se mal depois de uma caminhada e perdeu a consciência.

A viúva adiantou que Navalny tinha sido transferido para aquela prisão dois meses antes da morte, "claramente para esse fim".

"Durante os três anos que passou atrás das grades, o estado de saúde agravou-se. Não queriam apenas matá-lo, tentaram dominá-lo. Atormentaram-no com fome, frio e isolamento total. Foi impedido de receber telefonemas e visitas e deixaram de lhe entregar cartas. As reuniões com os advogados foram obstruídas. Passou longos períodos numa cela de castigo sem bens pessoais, sem livros e até sem papel ou caneta", contou.

Navalnaya realçou que a cela onde o marido se encontrava tinha "seis metros quadrados, uma chávena, uma escova de dentes e uma cama fixada na parede durante o dia, pelo que não era possível deitar-se nela".

"Esta foi a cela de castigo em que foi assassinado", denunciou.

Segundo Navalnaya, o opositor russo começou a sentir-se mal durante "uma caminhada programada" feita numa cela vizinha.

"O Alexei bateu à porta e disse que se sentia mal (...) Estava deitado no chão, com os joelhos sobre o estômago, a gemer de dor. Disse que o peito e a barriga estavam a arder. Começou a vomitar", contou.

"De acordo com o testemunho de alguns guardas prisionais, Alexei sofreu convulsões, respirava com dificuldade e tossia", acrescentou Navalnaya, referindo que "a ambulância foi chamada mais de 40 minutos depois de Alexei se ter começado a sentir mal".

"Nesse momento, já estava inconsciente. A ambulância, que chegou 10 minutos depois, tentou ressuscitá-lo, mas sem sucesso", adiantou.

A viúva lembrou que, após a morte do marido, prometeu fazer "todos os possíveis para investigar o assassínio de Alexei" Navalny, garantindo que tanto ela como a equipa que apoiava o opositor estão a cumprir essa promessa.

"Os assassinos trabalharam cuidadosamente para eliminar as pistas, mas conseguimos preservar algumas provas", disse.

Contou que conseguiram, em fevereiro de 2024, obter "amostras de material biológico de Alexei [Navalny] e contrabandeá-las em segurança para o estrangeiro".

Agora, os resultados dos testes de dois laboratórios "chegaram à mesma conclusão: Alexei foi assassinado. Mais especificamente, foi envenenado".

Navalnaya lamentou que "os países ocidentais não tenham base legal para abrir processos criminais" relativamente ao caso, mas lembrou que "também há considerações políticas".

"O Alexei era o meu marido. Era o meu amigo. Era um símbolo de esperança para o nosso país. Putin assassinou essa esperança. Temos o direito de saber como o fez. Peço aos laboratórios que realizaram os testes que publiquem os resultados", apelou.

"Parem de bajular Putin em nome de considerações ditas superiores. Enquanto permanecerem em silêncio, ele não para. Talvez alguém esteja a morrer agora por causa de outro envenenamento por Putin. Não apenas na Rússia, pois já vimos casos semelhantes noutras partes do mundo", instou.

"A única forma de confrontar Putin é agir com coragem e franqueza", concluiu.