A justiça russa condenou hoje a 16 anos de prisão o jornalista norte-americano Evan Gershkovich, acusado de espionagem por alegadamente ter acedido a informação secreta sobre a indústria militar do país.
Nascido nos Estados Unidos e filho de imigrantes da antiga União Soviética, o jornalista de 32 anos do ‘The Wall Street Journal’, detido em março de 2023 em Ecaterimburgo, a capital dos Urais, é o primeiro jornalista ocidental detido e condenado sob a acusação de espionagem na Rússia pós-soviética.
O Ministério Público russo tinha pedido uma pena de 18 anos de prisão "numa colónia penal de segurança máxima".
No julgamento, que decorreu à porta fechada, as autoridades russas alegaram, sem apresentar quaisquer provas, que Gershkovich estava a "recolher informações secretas" para a agência de espionagem norte-americana CIA.
Em concreto, foi acusado de obter informações sobre a Uralvagonzavod, uma fábrica situada 150 quilómetros a norte de Ecaterimburgo que produz e repara tanques e outro equipamento militar.
As acusações foram rejeitadas pelo próprio jornalista, pelos seus mais próximos e pelo Governo dos Estados Unidos.
Gershkovich deverá cumprir a pena numa colónia penitenciária de "regime severo", ordenou hoje o juiz Andreï Mineïev, que deve implicar condições de detenção muito estritas, comparáveis ao "regime normal", relatou a agência noticiosa AFP.
O jornalista "não admitiu a culpa" e exerceu o direito a uma "última oportunidade de falar" antes do veredicto, disse uma porta-voz do tribunal, citada pelas agências internacionais.
Caso exista um recurso, e a condenação seja confirmada, o jornalista deverá de seguida ser enviado para a colónia penitenciária, num processo que poderá prolongar-se por vários dias ou semanas.
Troca de prisioneiros pode estar próxima
O julgamento, que começou a 26 de junho, “foi concluído com uma rapidez fora do vulgar, alimentando esperanças de que haja um troca de prisioneiros envolvendo o jornalista”, aponta o britânico ‘The Guardian’.
Na Rússia, os procedimentos judiciais costumam arrastar-se durante vários meses e raramente resultam em absolvição, escreveu no mês passado o ‘The Kyiv Independent’.
Segundo o ‘The Guardian’, as sessões que decorreram esta semana foram antecipadas em mais de um mês e a acusação decidiu ouvir os depoimentos de todas as testemunhas numa tarde, o que pode indicar que um acordo para a troca pode estar próximo.
Em fevereiro, o Presidente russo revelou, em entrevista ao apresentador norte-americano Tucker Carlson, que estariam a decorrer conversações nesse sentido. Vladimir Putin deu a entender que gostaria de negociar a liberdade de Vadim Krasikov.
O prisioneiro, que terá trabalhado com os serviços secretos russos (FSB), está a cumprir pena perpétua numa prisão alemã por matar Zelimkhan “Tornike” Khangoshvili, um cidadão georgiano de origem chechena que tinha combatido as tropas russas na Chechénia e que estava exilado na Alemanha.
O ‘The Wall Street Journal’, que anteriormente tinha descrito o caso como “uma farsa da justiça”, lamentou em comunicado a “condenação fictícia e vergonhosa” do jornalista. A direção do jornal garantiu ainda que continuará a “fazer tudo o que for possível para fazer pressão em relação à libertação de Evan e apoiar a sua família”.
“O jornalismo não é um crime e não descansaremos enquanto ele não for libertado. Isto tem de acabar já”, declararam os responsáveis.
Segundo o ‘POLITICO’, a libertação do jornalista é uma prioridade para ambos os candidatos à presidência dos EUA. A administração de Joe Biden estará a tentar chegar a um acordo com Moscovo há mais de um ano. Já Donald Trump tem usado a falta de avanços contra o seu adversário, garantindo que Evan Gershkovich será “libertado quase no imediato” se for eleito.