Alexei Navalny começou a escrever as memórias em 2020, depois de ter sobrevivido a um alegado envenenamento com uma substância que ataca o sistema nervoso - um ataque que as secretas de vários países ocidentais denunciaram como uma tentativa de homicídio com o patrocínio do Estado russo. São essas memórias, que percorrem a vida e o trabalho do grande opositor de Putin, que serão publicadas em livro nos Estados Unidos. A obra, com a chancela da editora “Knopf Doubleday”, e o título “Patriot”, irá para as bancas a 22 de outubro. A primeira impressão será de meio milhão de cópias, e chegará a vários países, de acordo com o jornal “The New York Times”. Haverá também uma versão em russo, adianta a editora.
O livro de publicação póstuma cobre a juventude do ativista político russo, o período de florescimento da sua popularidade, o casamento e construção de uma nova família, mas também o seu percurso na oposição ao Kremlin, feito de atentados contra a sua vida e daqueles que o rodeavam. A sua vontade de concorrer à Presidência ficou sempre por cumprir, e a obra debruça-se também sobre o momento em que foi condenado por fraude num tribunal russo, para que as suas aspirações políticas fossem travadas. As atividades mais célebres de Navalny ficaram, pois, a ser os protestos anti-Putin e a construção de equipas de investigação em todo o país para desvelar a corrupção do regime russo.
Contudo, Alexei Navalny escreveu grande parte do seu livro quando se encontrava na Alemanha, a recuperar do envenenamento. O livro inclui também correspondência nunca antes vista enviada quando se encontrava na prisão, segundo a editora. São as suas próprias palavras que ali estarão plasmadas - algumas vezes, ditou-as à sua mulher -, garantiu Yulia Navalnaya, que espera que o testemunho tenha um efeito galvanizador. “Este livro é um testemunho, não apenas da vida de Alexei, mas do seu compromisso inabalável na luta contra a ditadura; uma luta pela qual ele deu tudo, incluindo a sua vida”, afirmou Yulia Navalnaya. “Os leitores conhecerão o homem que amei profundamente, um homem de profunda integridade e coragem inabalável. Partilhar a sua história não só honrará a sua memória, mas também inspirará outros a defender o que é certo e a nunca perder de vista os valores que realmente importam."
A editora defende que as memórias do vencedor do Prémio Sakharov do Parlamento Europeu, em 2021, e do Prémio Dresden da Paz, em 2024, “expressam a convicção total de Navalny de que a mudança não pode ser derrotada, e de que virá”. A mensagem está em linha com uma outra, que o opositor de Putin tinha deixado aos seus seguidores, no documentário da ”CNN" com o seu nome, “Navalny”: “Se eles decidirem matar-me, significa que somos incrivelmente fortes. Temos de utilizar esse poder, não desistir, lembrar-nos de que temos um enorme poder que está a ser oprimido por estes vilões. Nós não nos apercebemos do quão fortes realmente somos. A única coisa necessária para o triunfo do mal é que as pessoas boas não façam nada. Por isso, não fiquem parados.”
Navalny morreu em fevereiro, aos 47 anos, quando se encontrava preso num remoto estabelecimento prisional do Ártico. Três anos antes, tinha regressado à Rússia, com o receio de que pudesse ser detido ou alvo de ataques. Foi detido no aeroporto, e, mais tarde, foi acusado de peculato e fraude. Em agosto de 2023, foi acusado de “extremismo” e condenado a 19 anos de prisão. “Não quero desistir do meu país, nem das minhas crenças”, escreveu Navalny, em janeiro, pouco tempo antes da sua morte. “Não posso trair, nem o primeiro, nem o segundo. Se as tuas crenças valem alguma coisa, deves estar disposto a defendê-las. E, se for necessário, faz alguns sacrifícios."