Rússia

Morreu Alexei Navalny, o maior opositor de Vladimir Putin

Os serviços prisionais da Rússia confirmaram esta sexta-feira a morte de Alexei Navalny, o homem que ficou conhecido pela feroz oposição ao Presidente da Rússia, Vladimir Putin. Tinha 47 anos e foi visto a sorrir na prisão há poucos dias, apesar de manter um ar abatido e estar claramente mais magro. Em 2013, conseguiu 27% dos votos na corrida para presidente da Câmara de Moscovo - e, desde então, Putin nunca mais lhe deu descanso

Alexei Navalny, o principal opositor de Putin, durante uma das suas audiências em tribunal. Morreu na prisão de IK-2, uma prisão de alta segurança perto do Círculo Polar Ártico
EVGENIA NOVOZHENINA/REUTERS

Alexei Navalny, que se notabilizou pela sua oposição de mais de uma década ao regime de Putin, morreu esta sexta-feira na prisão, para onde foi enviado por esse mesmo regime, sob acusações de fraude que os seus apoiantes sempre defenderam terem sido apenas meras fabricações para conseguir calar uma das vozes mais mobilizadoras da Rússia.

A morte foi confirmada pelos serviços prisionais do país, que detalham ainda que o ativista se sentiu mal depois de um passeio a pé durante a manhã, tendo perdido a consciência. Uma ambulância terá chegado ao local e terá sido tentada a reanimação, sem sucesso. Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, já assegurou que a morte será investigada, em declarações citadas pela Reuters. Putin foi prontamente avisado, relata a agência governamental russa TASS.

Político, ativista, investigador de casos de corrupção e ex-advogado, tinha 47 anos e estava detido numa prisão a cerca de 60 quilómetros a norte do Círculo Polar Ártico, na região de Yamalo-Nenets, a quase 2000 quilómetros de Moscovo, onde cumpria uma pena de 19 anos de prisão por “extremismo”, o último de uma série de veredictos que o teriam levado a passar as próximas três décadas encarcerado.

Em janeiro, num vídeo gravado na prisão, aparecia magro e com a cabeça rapada. Nos últimos meses, a sua família e equipa legal tinham avisado sobre a deterioração do seu estado de saúde. O Serviço Federal Penitenciário de Yamalo-Nenets avançou que Navalny “sentiu-se mal” depois de uma caminhada, esta sexta-feira, e “quase de imediato perdeu a consciência”.

Uma jornalista da PuckNews, Julia Ioffe, escreveu esta sexta-feira na rede social X que tinha falado com a mulher de Navalny, Julia Navalnaya, na noite de quinta-feira e que, segundo Julia, Navalny estava “a aguentar-se bem em circunstâncias más”. Os vídeos e fotografias que circulam como os últimos registos de Navanly vivo mostram-no sorridente.

Navalny começou a aparecer nas notícias com mais frequência há mais de uma década, no início de 2011, quando liderou os protestos, na altura inauditos, contra a fraude eleitoral e a corrupção governamental, investigando o círculo íntimo de Putin e publicando as suas conclusões em vídeos no Youtube, onde se tornaram virais. Todo o mundo, não só a Rússia, ficou a saber, por exemplo, que Putin tinha construído um palácio à beira-mar, com o dinheiro dos contribuintes.

Em 2013, o seu nome tornou-se um perigo sério para o poder instalado, quando conseguiu obter 27% dos votos na corrida para presidente da Câmara de Moscovo, uma votação muito significativa, numas eleições que foram criticadas pela falta de transparência e que muitos acreditam que foi ele a vencer. Navalny prosseguiu o seu caminho, denunciando a opacidade na adjudicação de obras públicas, as mansões e iates adquiridos pelo ex-Presidente Dmitry Medvedev com dinheiros do Estado, entre várias redes de influência mantidas pelo regime de Putin e pelos oligarcas que o mantinham no poder.

Em 2020, Navalny entrou em coma depois de ter sido envenenado com um químico altamente nocivo, conhecido como ‘novichok’ e que só se pode encontrar nos cofres biológicos de um Estado. Foi levado para a Alemanha onde recebeu tratamento e recuperou. Ainda que mais fraco e com dores fortes nas articulações, que nunca chegaram a desaparecer, decidiu voltar à Rússia, onde foi detido assim que aterrou.

Pouco depois de ser preso, em agosto de 2021, Alexei Navalny deu uma entrevista ao “New York Times” que mostra bem o espírito que ele sempre tentou manter, pelo menos para fora, fazendo pouco dos guardas que obrigam os presos a ver televisão durante oito horas seguidas à espera de fazer deles férreos putinistas. “O regime de Putin é um acidente histórico, não uma inevitabilidade", escreveu em resposta às perguntas do “New York Times”, acrescentando: “Mais cedo ou mais tarde, este erro será corrigido e a Rússia vai passar para uma via de desenvolvimento democrática e europeia. Simplesmente porque é isso que o povo quer”.

Notícia atualizada às 12h30