Rússia

Tribunal russo prolonga detenção de jornalista russo-americana

Alsu Kurmasheva é acusada de não se ter registado o seu passaporte norte-americano. Agora a jornalista pode enfrentar até cinco anos de prisão

Alsu Kurmasheva, jornalista russo-americana, durante o julgamento em Kazan, na Rússia
ALEXEY NASYROV/ Reuters

Um tribunal russo ordenou hoje que uma jornalista russo-norte-americana detida seja mantida na prisão por mais dois meses, enquanto aguarda julgamento pela acusação de não se ter registado na Rússia como 'agente estrangeira'.

Alsu Kurmasheva, editora do serviço de Tatar-Bashkir da Radio Free Europe/Radio Liberty (RFE/RL), financiada pelo Governo dos Estados Unidos, foi detida a 18 de outubro do ano passado por não se ter registado como 'agente estrangeira' enquanto recolhia informações sobre as Forças Armadas russas.

Kurmasheva, que tem nacionalidade norte-americana e russa e reside em Praga com o marido e duas filhas, poderá enfrentar até cinco anos de prisão se for condenada.

O tribunal da república russa do Tartaristão rejeitou os recursos interpostos pelo seu advogado para a colocar em prisão domiciliária.

A RFE/RL já expressou a sua indignação quanto à decisão do tribunal de prolongar a detenção da jornalista até 5 de abril e exigiu a sua libertação imediata.

"As autoridades russas estão a levar a cabo uma lamentável campanha criminosa contra Alsu Kurmasheva, injustamente detida", afirmou o presidente da RFE/RL, Stephen Capus, num comunicado.

Segundo Capus, ela foi "presa e tratada injustamente apenas por ser uma jornalista norte-americana".

As autoridades russas intensificaram a repressão sobre críticos do Kremlin (Presidência russa) e jornalistas independentes depois de o Presidente, Vladimir Putin, ter enviado tropas para invadir a Ucrânia, em fevereiro de 2022, para tal utilizando legislação que eficazmente criminaliza qualquer declaração pública sobre o conflito que se desvie da linha oficial de Moscovo.

Alsu Kurmasheva foi a segunda jornalista norte-americana a ser detida na Rússia no ano passado, depois de o repórter do Wall Street Journal Evan Gershkovich ter sido preso por espionagem em março. Gershkovich continua sob custódia.

Kurmasheva foi detida a 2 de junho no Aeroporto Internacional de Kazan, capital do Tartaristão, depois de ter viajado para a Rússia no mês anterior para visitar a mãe, idosa e doente.

As autoridades confiscaram os seus passaportes norte-americano e russo e multaram-na por não ter registado o seu passaporte norte-americano. Estava à espera de que os passaportes lhe fossem devolvidos quando foi detida em outubro, com novas acusações.

Em 2017, as autoridades russas disseram à RFE/RL para se registar como 'agente estrangeiro', mas esta contestou o uso por Moscovo das leis de 'agente estrangeiro' junto do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (TEDH). A organização foi multada em milhões de dólares pela Rússia.