Uma dieta diária de macarrão, água e choques elétricos. Segundas, quartas e sábados nos ouvidos; terças, quintas, sextas e domingos nos órgãos genitais. Andriy Andryushchenko tem esta e outras piadas sobre o período de 47 dias em que foi torturado numa das prisões que os russos usaram para castigar a resistência civil, que se dissolve nos rostos comuns, cresce e esconde-se em qualquer lado. Não voltou a pôr todos os dentes que lhe arrancaram, para tal precisa de uma soma considerável. Já pôs um na frente, os outros não se veem, nem sabe quantos são.
Andriy está de colete antibalas pejado de insígnias oficiais, é um orgulhoso membro da administração militar de Kherson, diretor do departamento de auxílio humanitário. Antes da guerra era o que se pode chamar um empresário da noite, ocupação que lhe serviu de disfarce por um tempo. Tem 28 anos e “um destino mutilado”, diz.