“Oceano, serapilheira, liberdade, cegonha, borboleta, ouriço-do-mar.” A enumeração-poema sibilada nos lábios de Galyna Petryk tem a sonoridade que gosta de ouvir, e os seus olhos muito azuis contêm uma chama espremida pela pele de cada vez que sorri. Alegra-se a dizer palavras em português, a falar do rio Tejo e da paisagem “maravilhosa” da capital portuguesa, ainda que cada frase pareça, por si só, uma grande conquista. "O Tejo é muito bom, eu gosto", diz, com o riso pousando em si como a invocada borboleta. Na casa que deixou para trás, bombardeada, destruída, ficaram as pautas queimadas. A música continua junto a si: encantou-se com Salvador Sobral - que já tinha visto atuar, de resto, em 2017, na final da Eurovisão, precisamente no seu país -, e também com Carlos do Carmo. "Lisboa Menina e Moça" vai ser a primeira canção a ensinar aos seus alunos quando voltar à Ucrânia, garante ao Expresso a professora ucraniana de Música e Belas Artes.
Desde que chegou a Portugal, há quase dois anos, Galyna tem procurado compreender a língua. Começou por aprender, sozinha, online, em "todos os cursos que iam aparecendo". Depois, quando viu um anúncio publicitário a divulgar a iniciativa SPEAK, acedeu e inscreveu-se no nível 1. Decidiu também inscrever várias amigas, que fizeram várias formações nos vários ciclos oferecidos. Juntas, praticavam os exercícios propostos. Lançado a 12 de março de 2022, dias após o início do conflito na Ucrânia, o SPEAK for Ukraine integrou a comunidade ucraniana com o auxílio de buddies, os voluntários que ensinavam várias línguas aos recém-chegados. Galyna Petryk está entre os 1522 refugiados apoiados em Portugal pela plataforma cofundada pela representação portuguesa da Comissão Europeia, com o apoio da Fundação Ageas e da Galp.