Exclusivo

Guerra na Ucrânia

Zelensky suscitou dúvidas sobre a sinceridade dos compromissos anticorrupção da Ucrânia e arriscou-se a perder aliados ocidentais

Sob pressão dos manifestantes nas ruas, o Presidente ucraniano mudou de ideias, mas o projeto de lei para restaurar a independência das agências anticorrupção ainda tem de ser aprovado pelo Parlamento. É bom que o seja, defendem politólogos. Caso contrário, a Ucrânia corre o risco de enfrentar novos protestos populares e de ver bloqueado o caminho para a adesão à UE

Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky
Antonio Masiello

Há precisamente um ano, uma sondagem realizada na Ucrânia dava conta de que a corrupção era entendida como maior ameaça ao desenvolvimento da Ucrânia como democracia moderna do que a invasão russa: 51% contra 46%. Por isso, o anúncio de uma lei que retirava a independência a duas importantes agências anticorrupção — o Gabinete Nacional Anticorrupção (NABU) e a Procuradoria Especializada Anticorrupção (SAP) — desencadeou protestos em massa, os primeiros desde que a Rússia lançou a sua invasão em larga escala da Ucrânia, em 2022.

“As ações do Presidente prejudicaram a confiança entre ele e a população”, garante Mattia Nelles, diretor executivo do German-Ukrainian Bureau, organização focada em investigação e consultoria estratégica para melhorar as relações germano-ucranianas. Apesar de as taxas de aprovação do Presidente da Ucrânia continuarem elevadas, “os protestos servem de alerta”, sublinha Nelles. “Caso Zelensky atue contra o que a maioria da sociedade considera inegociável — o caminho europeu —, os ucranianos não hesitarão em exigir veementemente uma correção de rumo.”