Guerra na Ucrânia

Zelensky ao Parlamento alemão: “Sr. Scholz, deite abaixo este muro”

De camisola verde-tropa e olheiras escuras debaixo dos olhos, a imagem de Volodymyr Zelensky em direto, via vídeo, na câmara baixa do Parlamento alemão foi recebida com uma ovação de pé. Tal não livrou os deputados alemães de serem criticados por terem feito pouco e tarde pela Ucrânia
Zelensky dirigindo-se ao Parlamento Federal Alemão
Hannibal Hanschke/Getty Images

Berlim recebeu Volodymyr Zelensky com uma ovação de pé. Os deputados federais ao Bundestag assim se manifestaram logo que a imagem do Presidente ucraniano surgiu na videowall através da qual se dirigia à câmara baixa do Parlamento Federal.

“Caro Sr. Scholz, deite abaixo este muro”. As palavras do líder ucraniano evocaram as que o Presidente americano Ronald Reagan dirigiu em 1987 ao último líder soviético, Mikhail Gorbachev. Foi ao lado da Porta de Brandenburgo, na capital alemã ainda dividida, quando os tempos faziam prever brechas no Muro de Berlim, mesmo ali ao lado. Ainda ninguém sabia que ele viria a cair, nem como, dali a dois anos. Dê à Alemanha a liderança que ela merece”, exortou Zelensky.

“Não é um Muro de Berlim é um Muro na Europa central entre a liberdade e a escravidão, e este Muro cresce com cada bomba” largada sobre a Ucrânia, afirmou aos deputados o líder ucraniano, exibindo as suas “imagens de marca”: T-shirt verde tropa e olheiras escuras debaixo dos olhos.

Depois do Parlamento Europeu, da Câmara dos Comuns em Londres e do Congresso norte-americano, Zelensky falou em direto ao Bundestag. Pediu ajuda e, ao mesmo, tempo, criticou os deputados alemães pela sua hesitação.

Hesitações favorecem Moscovo

Zelensky acusou os parlamentares de terem demorado a agir. As sanções chegaram demasiado tarde e de forma hesitante, demasiadas empresas mantiveram fortes ligações com a Rússia por demasiado tempo, disse, citado pelo site da revista “Der Spiegel”.

O Presidente da Ucrânia defendeu que a hesitação do Ocidente em relação ao desejo do seu país de aderir à NATO e à União Europeia constituiu uma “pedra” desse muro no centro da Europa. A Alemanha ajudou a construir este muro, que isolou a Ucrânia, atirando-a para os braços da Rússia, disse, citando como exemplo o gasoduto do Báltico, Nord Stream 2 [cuja certificação a Alemanha suspendeu de imediato após a invasão, impedindo a sua entrada em funcionamento].

O discurso emotivo do chefe de Estado ucraniano repetiu alguns dos pedidos já feitos noutros parlamentos: “A Rússia está a bombardear-nos, a destruir tudo aquilo que nós construímos”. Milhares de ucranianos já morreram, incluindo crianças. “Os ocupantes já mataram 108 crianças no meio da Europa, no século XXI.”. A Alemanha tem de aumentar a sua ajuda quando “um povo está a ser destruído na Europa, reclamou Zelensky. “Ajudem-nos a parar esta guerra”, pediu, citado pela “Der Spiegel”.