24 de fevereiro – “Acorda, é a guerra”
Fui acordada pelo telefonema de uma amiga, às 5h30: “Inna, acorda, é a guerra.” Não percebi logo do que é que ela estava a falar. Que guerra? Há silêncio, as pessoas estão a dormir. Fiz o café da manhã, abri o Google. E então... Da janela da cozinha vi lá fora uma pequena mosca preta, depois outra. Olhei mais de perto. Eram helicópteros, a voar por cima das copas das árvores, uns 30, talvez mais. E sons irrealistas para os moradores - o som de explosões. Eram bombardeamentos e aterragens num aeródromo militar. Depois apareceu um caça. Fiquei gelada, não me conseguia mexer. Depois um segundo caça. Fiquei imóvel várias horas, no chão, porque era assustador.
25 de fevereiro – Na cave, a respirar ar frio e pó de cimento
As pontes em torno de Gostomel que a ligam à capital foram destruídas, para cortar o caminho ao inimigo. É impossível ir seja para onde for, ouvem-se combates por todo o lado, há helicópteros inimigos a sobrevoar e a bombardear o aeroporto. Até hoje, não tinha confiança com a maior parte dos vizinhos. Agora tornámo-nos todos uma grande família. Foi a última vez que tive luz e aquecimento: Irpin, Gostomel e Bucha ficaram neste dia sem eletricidade. Levámos cobertores para a cave e arranjámos uma cama. Éramos 50 pessoas, de todas as idades – o mais novo tem apenas 4 meses -, a respirar ar frio e pó de cimento.