Seria sempre a tarefa mais difícil da sua vida política: Mike Pence, vice-presidente dos EUA, atirou meias verdades para a arena e desviou-se de perguntas específicas para conseguir defender o legado de Donald Trump, mas nem sempre teve sucesso. Quer ele quer a senadora Kamala Harris, candidata do Partido Democrata ao lugar que Pence ocupa, concentraram-se em não perder eleitores na noite de quarta-feira, mas a energia de Harris sobressaiu. Isso pode talvez dever-se ao facto de um rosto como o dela ser uma visão refrescante - é a primeira mulher negra candidata à vice-presidência por um dos grandes partidos.
É quase impossível comparar este debate com o que decorreu há uma semana, entre os dois homens que concorrem ao lugar principal da política norte-americana (há quem diga que mundial). Tanto Harris, senadora pela Califórnia, como Pence esforçaram-se por manter a cordialidade. O que não é o mesmo que dizer que a irritação tenha estado ausente: na verdade esteve sempre latente no debate de Salt Lake City, Utah.
Pence interrompeu Harris muito mais do que ela o interrompeu a ele. Ela riu-se com vontade de alegações sobre os êxitos da Administração Trump, revirou os olhos e outras vezes olhou-o diretamente: “Ainda estou a falar, senhor vice-Presidente”, disse Harris pelo menos dez vezes. Fica a ideia para a campanha de Joe Biden: é frase para imprimir em canecas e t-shirts.
As mensagens passaram com clareza, que há uma semana rareou. O pensamento de Biden ficou mais claro através da energia com que Harris explicou o plano democrata para o país. Da mesma forma, Pence foi capaz de fazer pelos ideais republicanos em 90 minutos o que Trump talvez não tenha conseguido em quatro anos: reforçou na memória dos eleitores a importância que a liberdade de escolha tem para os americanos, criticou a carga fiscal que os democratas podem impor e lamentou antecipadamente os empregos que diz que se vão perder se houver uma revolução ambiental.