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THIAGO CORREIA, 35 ANOS, JORNALISTA
A minha relação com Portugal foi sempre muito próxima. Todos os meus quatro avós, de nacionalidade portuguesa, mantinham tradições portuguesas no Brasil, desde a música até à comida e ao futebol. Tudo era motivo para ter Portugal no meio dos assuntos e dos encontros de família. Também desde criança eu vinha a Portugal nas férias.
Foi em 2010 que vim para ficar por um tempo. Morei em Lisboa cerca de um ano e meio, enquanto completei uma pós-graduação, até que depois acabei por regressar ao Rio de Janeiro. Só em 2017, com quase 30 anos, junto com a minha esposa e já noutra fase da minha carreira, resolvi vir de vez para Portugal, para Braga, trabalhar para o jornal O Minho.
É muito diferente fazer jornalismo no Brasil e em Portugal. Se quiser um exemplo do dia a dia, no Brasil um acidente de viação é noticiado se tiver um grande número de mortos e de feridos. Aqui, e ainda para mais na imprensa local, qualquer choque entre dois ligeiros é notícia. Do ponto de vista político o terreno também se diferencia. A própria estrutura política do Brasil e de Portugal, por ser lá presidencialismo e aqui parlamentarismo, muda tudo.
Quando decidi vir para Portugal, apesar de estar a trabalhar no maior jornal desportivo do Brasil, sentia que não tinha muito por onde crescer. Aí, todas as coisas começam a juntar-se e em 2015 e 2016 o Brasil já estava num movimento político, económico e social bastante conturbado, depois do impeachment da Dilma Rousseff. Entrou o Michel Temer e estava claro que o caminho que o país ia tomar era o do Jair Bolsonaro. Eu sou completamente oposto a toda a visão dele. Sou de centro-esquerda.
No meio em que me movimentava, conseguíamos prever que o Jair Bolsonaro, quando entrasse, não ia causar danos no Brasil apenas por um período de quatro anos. O estrago ia permanecer por muito mais tempo.