“O Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação [ICIJ, de que o Expresso faz parte] diz que recebeu 715 mil documentos no âmbito do chamado Luanda Leaks. Mas só publicaram 142. Quem me dera ver os restantes documentos. Será que o ICIJ teve tempo para ler e analisar em poucos meses os tais 715 mil documentos, a maioria deles em português?", questiona Isabel dos Santos na entrevista que faz capa da revista do Expresso esta sexta-feira. Publicamos aqui um excerto da entrevista, em que a empresária angolana responde a várias questões sobre o Luanda Leaks, mas também acerca da sua ligação à Rússia e a Malta.
LUANDA LEAKS
“O Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação [ICIJ, de que o Expresso faz parte] diz que recebeu 715 mil documentos no âmbito do chamado Luanda Leaks. Mas só publicaram 142. Quem me dera ver os restantes documentos. E, daqueles 142, nem um corrobora as histórias publicadas nos órgãos de comunicação social. E as versões estavam sempre a mudar. Será que o ICIJ teve tempo para ler e analisar em poucos meses os tais 715 mil documentos, a maioria deles em português? As provas apresentadas foram fabricadas de forma a criar uma narrativa com oito ou nove histórias escandalosas. Acho que os jornalistas foram manipulados e usados pelos serviços secretos angolanos. A fonte destes documentos não foi o hacker Rui Pinto, mas sim os serviços secretos, que passaram as ‘provas’ para Portugal e depois para a plataforma PPLAAF em França e finalmente para o ICIJ. Infelizmente, isto acontece. Por vezes, os jornalistas são usados por governos mal-intencionados que querem calar a oposição.”
RÚSSIA
“Tenho passaportes de Angola e da Rússia, nada mais. A Rússia é um dos poucos países aonde ainda posso ir. Tenho ligações [à Rússia] e é um país que tenho visitado, mas nunca vivi ou trabalhei lá. Não tenciono viver na Rússia. Estive em conferências onde Putin participou, como o Fórum Rússia-África. A invasão da Ucrânia? Eu sei o que a guerra traz. Cresci durante uma guerra. É sempre muito triste assistir à destruição da vida humana e à destruição material. Espero que o conflito chegue ao fim. Por vezes encontro-me com sul-africanos cujos pais ou avós participaram no Batalhão Buffalo [do Exército da África do Sul]. Há 20 anos eram nossos inimigos, mas hoje somos amigos.”
MALTA
“Muitas das minhas holdings estão registadas em Malta porque a maior parte das minhas empresas — talvez uns 90% dos meus negócios — está em Angola ou Portugal e Malta é uma jurisdição europeia que trabalha bem com Portugal. Não tenho nada a esconder. As holdings domiciliadas em Malta registam publicamente que eu sou a dona delas. Nada secreto. Além disso, estamos a falar de participações em empresas como a NOS, a Galp ou a Efacec, que estão cotadas em Bolsa ou sujeitas a um nível muito alto de escrutínio. Ao contrário do que se escreveu, não tenho casas em Lisboa. Ficava sempre no Ritz. Mas tenho investimentos em empresas que operam no mercado imobiliário em Lisboa.”