América Latina

Venezuela: Regime oficializa vitória de Maduro que fala em tentativa de golpe de Estado “fascista”. Nos bairros, o povo bate em tachos

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela proclamou oficialmente como Presidente Nicolás Maduro, após ter anunciado no domingo à noite que o líder chavista, no poder desde 2013, venceu as eleições, resultado rejeitado pela oposição

Jesus Vargas

O Presidente da Venezuela Nicolás Maduro alegou hoje estar em curso uma tentativa de golpe de Estado "de natureza fascista", perante dúvidas sobre o processo da sua reeleição, rejeitada pela oposição e parte da comunidade internacional.

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela proclamou hoje oficialmente como Presidente Nicolás Maduro, após ter anunciado no domingo à noite que o líder chavista, no poder desde 2013, venceu as eleições, resultado rejeitado pela oposição.

Antes da alegação de Maduro, o procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, acusou os líderes da oposição Lester Toledo, Leopoldo López e María Corina Machado de serem os principais responsáveis por uma tentativa de adulterar os resultados eleitorais das eleições presidenciais de domingo.

"O ataque terá sido realizado a partir da Macedónia do Norte e teria como intenção manipular os dados que estavam a ser recebidos na CNE (...). Segundo as informações recolhidas, estão envolvidos Lester Toledo, Leopoldo López e María Corina Machado", denunciou Saab.

“Derrotar o fascismo, os demónios, as demónias, é um feito histórico e o nosso povo conseguiu, o nosso povo conseguiu de novo", sublinhou o líder chavista depois de receber das mãos do presidente do CNE, Elvis Amoroso, a credencial simbólica que lhe permitirá governar o país até 2031.

O barulho

O ruído do bater de tachos tomou hoje conta, durante mais de uma hora, de vários bairros da capital da Venezuela, Caracas, num protesto contra a reeleição de Nicolás Maduro para um terceiro mandato nas presidenciais de domingo.

"Tenho que esvaziar a frustração que sinto de alguma forma. Este protesto é diferente de outros anteriores, é para mostrar que e o motivo deste protesto ser diferente é para demonstrar que todos estamos em desacordo com a fraude eleitoral", explicou Lisette Fernández à Lusa.

Residente no bairro de Cátia, esta venezuelana explicou que o "caçarolaço" é também uma forma de demonstrar que a população perdeu o medo e quer uma mudança no país. "Tenho amigas que vivem no bairro 23 de Enero, onde pela primeira vez tocaram tachos, sem se cansar, durante uma hora", frisou.

Questionada sobre o que a levava a afirmar que houve uma fraude eleitoral, explicou que o processo eleitoral foi monitorizado através das redes sociais, onde mais de 50% das atas divulgadas dão a vitória do opositor Edmundo González Urrutia.

"Estamos à espera de instruções da [líder da oposição] Maria Corina Machado para saber que ações tomar (...) gostava de dizer às pessoas que mantenham a calma, porque este processo é diferente e todos sabíamos o que iria acontecer com as eleições", frisou.

Além do leste da capital, o "bater de tachos" foi ouvido em bairros populares, tradicionalmente afetos ao regime chavista, como o 23 de Enero, próximo do palácio presidencial de Miraflores, Cátia (oeste) e El Valle (a sul), coincidindo com o momento em que o Procurador-geral Tarek William Saab se dirigia ao país.

Por outro lado, em El Valle, Magali Martínez, também abriu as janelas da sua casa para com a ajuda de uma colher de pau fazer soar a panela em protesto e em sinal de descontentamento.

"É a nossa liberdade, o nosso voto, a nossa esperança que está em risco, e querem minimizar o valor que tem e o que significa para nós. Tocarei caçarolas cada vez que seja necessário, até que haja uma mudança política no país", disse à Lusa.

Explicou que, para as mulheres, a vida nos bairros venezuelanos é cada vez mais complicada, que o salário dos maridos não é suficiente e em muitos casos elas têm filhos solteiras, pelo que fazem de pais e mães ao mesmo tempo.

"Trabalhamos lá fora, nos nossos empregos, e chegamos a casa para continuar a trabalhar, supervisionar a educação dos filhos. Não temos um horário e o cansaço não importa", disse.