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Alemanha

Alemanha discute ilegalização do seu partido de extrema-direita. Seria um ataque à democracia ou apenas aprender com a História?

A Alternativa para a Alemanha está a crescer e, nas ruas, cresce também a oposição a um partido que parece querer usar a democracia para dissolver a própria. Maximilian Ruf, investigador nas áreas do extremismo e prevenção da violência, tem refletido sobre isso. “A nossa História mostra que a democracia pode ser subvertida através da democracia, por atores que, a partir de dentro do sistema, querem destruí-lo, destruir as bases da democracia liberal. Isso não pode acontecer”, diz, numa análise para o Expresso, sobre a expansão do radicalismo no seu país

Annegret Hilse

As referências ao passado alastram-se pelas conversas políticas na Alemanha como chá em água quente. Em segundos, deixa de ser visível a água e tudo é de uma mesma cor. O peso da História caiu de novo sobre os alemães quando, há cerca de dez dias, o site de jornalismo de investigação “Correctiv” divulgou um “grande plano”da extrema-direita para deportar um número não definido de cidadãos “não assimilados”, mesmo os que possam deter passaporte alemão ou outros direitos de residência.

Extremista? Inexequível? Reminiscente da Conferência de Wannsee, onde se discutiu a Solução Final para o povo judeu? Sim, tudo isso está a ser discutido na Alemanha, abertamente, tal como estão a ser discutidos os caminhos possíveis para ilegalizar o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), afastar os seus membros mais extremistas ou cortar-lhe o financiamento público. Mas que é que se passou nessa conferência? Coisas que os participantes se esforçaram muito para esconder.

A reunião no hotel

O “Correctiv” enviou um repórter que fingiu ser apoiante de um dos grupos representados, e o resultado é uma história escrita com detalhe impressionante, que mostra os financiadores, a forma de organização e o argumentário da extrema-direita quando despido da roupagem civilizada, normalmente necessária para se apresentar perante públicos mais exigentes. Não era o caso.

O ponto alto da reunião, num hotel perto de Potsdam, cujo dono também tem ligações à extrema-direita, foi a intervenção de Martin Sellner, líder de longa data do movimento identitário pan-europeu. O público é informado pelo moderador dos painéis de que o tema que segue é o da “remigração”, que será assunto de todas as atividades planeadas para aquele dia.