A líder da Alternativa para a Alemanha (AfD, sigla para o nome do partido em alemão, Alternative für Deutschland), de extrema-direita, disse esta segunda-feira, em entrevista ao “Financial Times”, que o seu partido fará campanha por um Brexit à moda alemã se vencer as eleições. Alice Weidel, que encabeça um partido cada vez mais popular entre a população em geral e mesmo o mais popular, segundo as sondagens agregadas do “Politico” , em algumas regiões alemãs, disse ao diário britânico que a opção que o Reino Unido tomou seria também “totalmente correcta” para a Alemanha, uma vez que essa secessão, na sua opinião, reforçaria a soberania do país, o argumento principal daqueles que, no Reino Unido, arquitetaram a campanha vencedora do Brexit. “Que seja possível um país tomar uma opção como essa, isso serve de modelo para a Alemanha”, disse Weidel.
Antes de avançar para um referendo sobre um “Dexit” (junção de “Deutschland + Exit”), um governo liderado pela AfD teria como objectivo “reformar a União Europeia” e acabar com o seu “défice democrático”, através da redução dos poderes da Comissão Europeia, um “executivo não eleito”. Se essa mudança não for possível, o caminho pode ser o voto. “Se não conseguirmos reconstruir a soberania dos Estados-membros da UE devemos deixar o povo decidir, tal como o Reino Unido fez”, disse.
Momento doce e amargo para a AfD
Durante o fim de semana, pelo menos um milhão de pessoas estiveram reunidas em várias cidades alemãs em protesto contra a AfD, depois de uma investigação jornalística do site Correctiv ter revelado um encontro que alguns dos seus membros com um grupo de ativistas de extrema-direita identitária, alguns abertamente neonazis, durante o qual foram discutidas propostas para a redução do número de estrangeiros no país que nunca tinha sido ouvidas antes, entre elas a deportação de pessoas com passaporte alemão que não se tenham “aculturado”.
Alice Weidel, ex-gestora da banca de investimento, não tinha ainda dado uma entrevista desde que a investigação foi conhecida, e fica clara a sua intenção em desviar os holofotes da comoção generalizada que o artigo causou. Na opinião de Weidel, que é casada com uma cidadã do Sri Lanka e tem dois filhos com ela, a ideia das deportações, discutida na reunião “está a ser usada pela deturpar as intenções do partido”, um partido que “se define pela aplicação das leis” da Alemanha. E na Alemanha, parece ter querido lembrar, obviamente que o envio de pessoas com passaportes alemães para outros países ainda é uma coisa ilegal.
O que faria um seu Governo em relação aos números da migração líquida, que, segundo o Conselho Europeu para os Refugiados atingiu em 2022 o seu máximo, depois da entrada de 1,1 milhões de ucranianos, não sabemos. Neste momento, quando a AfD conta com entre 20 a 23% de intenções de votos na maioria das sondagens a nível federal e ultrapassa os 35% em alguns estados do leste da Alemanha, como a Turíngia, essa é uma pergunta que falta responder.
Sabemos porém que o número de migrantes considerados irregulares, que entram maioritariamente pelas fronteiras alemãs com a Polónia, a República Checa e a Suíça diminuiu 40%, um resultado atribuído a novas medidas de controlo do Espaço Schengen, o que também é controverso a nível europeu e até já foi criticado pela Comissária Europeia para os Assuntos Internos, Ylva Johansson. A ministra do Interior alemã, Nancy Faeser, que ordenou a reintrodução dos controlos, diz-se, no entanto, satisfeita com a “eficácia” dos controlos fronteiriços temporários, ainda segundo o último relatório de notícias sobre migração publicado no Conselho Europeu para o Refugiados.
O apoio público à UE é muito elevado na Alemanha, com sondagens recentes da Pew Research a mostrar que cerca de 71% das pessoas mantêm a confiança no projeto europeu (outros estudos colocam esse apoio nos 82%). No entanto, é mais fraco entre os eleitores da AfD, cerca de 52%, diz um relatório de um instituto associado à CDU, o partido da ex-chanceler Angela Merkel que fez inscrever nos estatutos do partido, enquanto ainda o liderava, que os seus membros estavam proibidos de se unirem à extrema-direita.
A Alemanha esta envolvida num debate sobre a ilegalização do partido, algo que a Constituição permite no âmbito da conotação com ideias nazis, mas é muito difícil que isso venha a ser aceite pelo Constitucional, dizem os analistas. Além disso, podia tornar-se na piéce de résistance que o partido precisa para se tornar ainda mais a casa de todos os que desconfiam do sistema.