Internacional

Felipe González condena "auto-amnistia" que governo espanhol vai dar a catalães

O ex-primeiro-ministro socialista de Espanha Felipe González condena a amnistia dos separatistas catalães, por ser "uma auto-amnistia", uma "completa arbitrariedade" e "um pedido de desculpas" a quem violou a lei

O antigo primeiro-ministro Felipe González (1982-96) tem sido a voz mais sonante dos socialistas que se opõem a acordos com os separatistas catalães
Luis Barron/Eyepix Group/Future Publishing/Getty Images

A lei e amnistia atualmente em debate no Senado espanhol foi uma exigência dos partidos independentistas Esquerda Republicana da Catalunha (ERC, atualmente no governo regional) e Juntos pela Catalunha (JxCat, do antigo presidente catalão Carles Puigdemont, que vive na Bélgica desde 2017 para fugir à justiça) para viabilizarem o último Governo central espanhol do socialista Pedro Sánchez, em novembro passado.

Felipe González, dirigente histórico do Partido Socialista Espanhol (PSOE), disse que a lei foi feita com base na "mais completa arbitrariedade" e "à medida" de quem a negociou, com sucessivas alterações ao texto para abranger pessoas concretas a pedido, sobretudo, do JxCat.
"Não é uma amnistia, é uma auto-amnistia", disse Felipe González em Madrid num encontro esta semana com jornalistas de meios de comunicação de vários países, entre os quais a agência Lusa. O resultado é "uma lei não aceitável", afirmou Felipe González, que lembrou que foi um defensor da concessão de indultos aos dirigentes catalães condenados pela referendo ilegal e pela declaração unilateral de independência de 2017. "Mas esta amnistia não é um perdão [de uma condenação], como o indulto, é um pedido de perdão aos infratores", considerou.

Felipe González sublinhou que continua a defender, sobre este assunto, as posições que saíram do último congresso do PSOE, quando o partido considerou que a amnistia não tinha enquadramento na Constituição espanhola.

Esta foi também a posição assumida e reafirmada, até às eleições do ano passado, pelos dirigentes socialistas, incluindo Pedro Sánchez, lembrou.
Felipe González considerou que o processo que envolve a amnistia em debate em Espanha ainda é "um grande cenário de conflito" e é incerto o que vai acontecer a curto e médio prazo, num contraponto ao argumento usado por Pedro Sánchez para justificar a medida, que apresenta como uma forma de superar o confronto político na Catalunha e abrir uma nova fase de convivência na região e entre a região e as instituições do Estado espanhol.

Para Felipe González, a única coisa que se conhece com certeza são os acordos entre os partidos catalães e Sánchez para a viabilização do último governo e sublinha que, ao contrário do atual primeiro-ministro, os independentistas continuam a defender e a fazer aquilo que sempre disseram, reafirmando continuamente, por exemplo, a intenção de avançar com novos referendos.

Felipe González é um crítico declarado do atual líder do PSOE e do Governo de Espanha, Pedro Sánchez. "Uma coisa é governar e outra coisa é estar no Governo", disse esta semana aos jornalistas, no mesmo encontro em Madrid, quando questionado sobre o atual primeiro-ministro espanhol.
González lamentou que a atual direção do PSOE tenha a "estratégia errada" de não ser "um projeto maioritário", preferindo liderar "um Frankenstein cada vez mais complicado", numa referência à metáfora usada com frequência em Espanha para definir os governos de Pedro Sánchez.

O atual governo é uma coligação de esquerda do PSOE com o Somar e foi viabilizado no parlamento por uma geringonça de oito partidos que integrou forças de esquerda e direita, assim como nacionalistas e independentistas das Canárias, Catalunha, Galiza e País Basco.

Felipe González, hoje com 82 anos, liderou o PSOE entre 1974 e 1997 e o Governo espanhol de 1982 a 1996.