Internacional

Negociador israelita sugere que EUA testem a existência de túneis subterrâneos na fronteira entre Gaza e o Egito

O negociador de libertação de reféns israelita Gershon Baskin diz que o exército israelita acredita que há túneis na fronteira entre Gaza e o Egito que permitiram o transporte de armamento, apesar do Egito ter dito anteriormente que a zona é segura. Apesar dos apelos internacionais para que não seja lançada uma ofensiva militar contra Rafah por receio de uma “catástrofe humanitária”, Israel não dá sinais de recuo

O Exército israelita anunciou ter descoberto o maior túnel do Hamas, com cerca de quatro quilómetros de comprimento e 50 metros de profundidade situado, em Erez, na fronteira a norte do enclave palestiniano.
ATEF SAFADI

O académico e negociador de reféns israelita Gershon Baskin diz que o exército israelita acredita que ainda há túneis debaixo do corredor de Filadélfia, através dos quais o Hamas teria transportado armas e munições ao longo dos anos. Que corredor é este? Trata-se da faixa de 14,5 quilómetros que representa a fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egito. Segundo a Reuters, divide a cidade de Rafah em duas e tinha uma rede de túneis que permitia aos palestinianos o tráfico de armas e bens comerciais.

“Aparentemente as entradas para os túneis estão dentro de casas no campo de refugiados de Rafah do lado egípcio. Os egípcios acreditam que trataram de todos estes túneis há anos. Deslocaram todas as casas do campo de refugiados mais de um quilómetro e construíram um muro de seis metros de profundidade a todo o comprimento do eixo – cerca de 14 quilómetros. Ainda assim, provavelmente há mais túneis numa profundidade superior a seis metros”, escreveu na rede social X.

Note-se que desde que a guerra começou, o Egito construiu bermas e aumentou a segurança nos postos de vigilância, e os serviços estatais divulgaram a criação de três linhas de barreira subterrâneas que tornam o contrabando impossível, escreveu a Reuters.

Baskin diz que propôs a um responsável egípcio que o país peça aos Estados Unidos para uma equipa de especialistas americanos fazer escavações e testes no corredor até uma profundidade de dezenas de metros – sob supervisão e com uma equipa de trabalhadores egípcios. “Recebi feedback positivo e passei a ideia a representantes no governo americano. Agora, Israel deve promover a proposta ao Egito e aos EUA”, indicou.

Em janeiro, o Egito alertou Israel contra qualquer tentativa de assumir controlo da segurança do corredor que separa o país da Faixa de Gaza. “Qualquer movimento israelita nesta direção vai levar a uma séria ameaça às relações egípcias-israelitas”, disse o líder dos serviços de informação estatais do Egito, Diaa Rashwan, citado pelo The Times of Israel’. Rashwan defendeu que a fronteira entre o Egito e Gaza é segura e disse que as declarações de Israel em como estão a ser passadas armas do Egito para o território são “alegações e mentiras”.

Desde o início do conflito que o Egito tem procurado evitar um êxodo em massa da Faixa de Gaza para o Sinai. Ainda em outubro, a Reuters noticiou que o Presidente do Egito afirmou que não permitiria que a escalada do conflito fosse resolvida à custa de terceiros.

Depois de Israel anunciar que planeava lançar uma ofensiva militar em Rafah – cidade no sul da Faixa de Gaza onde se estima que vivam atualmente 1,3 milhões de palestinianos – a comunidade internacional reagiu com oposição.

A ministra dos Negócios Estrangeiros alemã disse que seria uma “catástrofe humanitária anunciada”, o chefe da diplomacia europeia reiterou o alerta, a Arábia Saudita comentou que o passo teria “repercussões muito perigosas” e o responsável da agência das Nações Unidas (ONU) para apoiar a população palestiniana advertiu que uma operação militar em grande escala “só pode levar a uma maior intensificação da tragédia sem fim”. Apesar disso, o primeiro-ministro de Israel confirmou que o plano vai avançar. “Vamos fazê-lo. Vamos acabar com os batalhões terroristas que restam em Rafah, que é o seu último bastião”, afirmou Benjamin Netanyahu, num excerto de uma entrevista à ‘ABC News’.

A ministra dos Transportes israelita, Miri Regev, disse este domingo que o governo encara com seriedade as preocupações do Egito em relação à operação militar em Rafah e que os dois países estão a dialogar. “Penso que vamos conseguir chegar a acordo”, afirmou Regev, citada pela ‘Al Jazeera’.

A elevada concentração de pessoas em Rafah dá-se depois das Forças de Defesa de Israel terem indicado aos palestinianos para avançarem em direção a sul. De acordo com a Lusa, Netanyahu insistiu que será aberto “caminho seguro” para que a população civil saia da zona, mas tanto governos como organizações internacionais já avisaram que os palestinianos não têm um local alternativo para onde ir.