A reação iraniana aos ataques conduzidos pelo grupo Hamas contra Israel foi de júbilo. Em declarações elogiosas, o Governo do Irão, que durante anos esteve envolvido numa guerra com Israel e apoiou o Hamas, aplaudiu as iniciativas paramilitares deste sábado, adianta o jornal “The New York Times”.
“A resposta enérgica dos jovens palestinianos ao regime sionista que mata crianças mostrou que este está mais vulnerável do que nunca e que os jovens palestinianos estão em vantagem”, declarou Ali Bahadori Jahromi, porta-voz do Governo do Irão. Na mesma linha, Nasser Kanani, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Irão, também se posicionou dizendo: “A operação de hoje abriu um novo capítulo no campo da resistência e das operações armadas contra os ocupantes em territórios ocupados."
Há décadas que o Irão apoia o Hamas, o grupo islâmico que controla Gaza. Os dois têm interesses comuns na luta contra Israel. De acordo com o “New York Times”, vários analistas acreditam que, durante longos anos, o Irão forneceu ao Hamas apoio financeiro e político, bem como armas, tecnologia e formação para construir o seu próprio arsenal de foguetes avançados para atingir o território israelita em profundidade. Nada indica, contudo, que o Hamas se tenha coordenado com o Irão para realizar os ataques deste sábado. Na perspetiva de Steven A. Cook, investigador de Estudos do Médio Oriente e África e especialista em política árabe e turca no ‘think tank’ norte-americano Council on Foreign Relations, "existe uma possibilidade real de ocorrer uma guerra em duas frentes”.
“Os iranianos têm encorajado o Hamas, o Hezbollah e a jihad islâmica a coordenarem-se. O Hamas calculou que Israel está fragilizado, devido às suas lutas internas, e agora foi um bom momento para atacar”, concluiu o analista, em declarações ao Expresso. Carmiel Arbit, analista do Atlantic Council para assuntos do Médio Oriente, concorda: “É impossível subestimar a magnitude da tragédia que hoje se desenrola em Israel. Ainda não está claro de que forma isto irá aumentar, nem se os inimigos de Israel no norte, como o Hezbollah, irão aderir.” Mas uma coisa é certa, assevera a investigadora. “A resposta de Israel em Gaza será ampla e devastadora. Será diferente de qualquer guerra que vimos em quase uma geração.”
Um dos mais altos comandantes militares do Irão disse, porém, que o país apoiaria integralmente a operação em Gaza, a que o grupo Hamas chamou “Tempestade Al-Aqsa”, em homenagem à mesquita na Cidade Velha de Jerusalém. “Estamos confiantes de que todos os grupos de resistência na região apoiarão isto”, considerou o general Yayha Rahim Safavi, principal conselheiro militar do líder supremo do Irão e antigo líder do Corpo da Guarda Revolucionária.
Ainda de acordo com o “New York Times”, a comunicação social iraniana e contas nas redes sociais afiliadas à Guarda Revolucionária foram fornecendo atualizações minuto a minuto sobre o conflito, gabando-se de que militantes “apoiados pelo Irão apanharam Israel desprevenido”. Também foram difundidas mensagens de felicitação às notícias que davam conta dos mortos e feridos entre os israelitas.
Nos últimos anos, Israel orquestrou uma série de ataques clandestinos ao Irão, incluindo a sabotagem das instalações nucleares iranianas. Embora os líderes do Irão não tenham mantido em segredo o desejo de punir Israel pela onda de ataques, têm lutado para encontrar uma forma eficaz de retaliar sem arriscar uma guerra total ou inviabilizar qualquer hipótese de alcançar um novo acordo nuclear com os Estados Unidos e outras potências. Mas, como lembra o "New York Times”, a opinião pública no Irão não é favorável ao envolvimento no conflito israelo-palestiniano, num momento em que o país lida com problemas económicos urgentes. “Não a Gaza, não ao Líbano, a minha vida pelo Irão” tem sido, por isso, um lema entoado sempre que surgem protestos contra o Governo.