Embora pertencesse ao universo das ciências, Alfred Nobel tinha na escrita uma área de grande interesse. Quando morreu, em 1896, deixou uma biblioteca com mais de 1500 volumes, entre clássicos, livros de ficção e obras de grandes escritores, cientistas, filósofos, teólogos e historiadores. E também uma coleção de cartas e poemas escritos em tenra idade.
No seu testamento, onde destinou parte da sua riqueza aos prémios anuais que levam o seu nome, a literatura não foi esquecida. Esta quinta-feira, pelas 12 horas (de Portugal Continental), a Academia Sueca fará o anúncio de quem, no último ano, “produziu no campo da literatura a obra mais marcante numa direção ideal”. O anúncio pode ser acompanhado neste link.
Entre os 119 laureados que já receberam este Nobel, 31 produziram obras na língua de William Shakespeare. Estes autores anglófonos são oriundos de 11 países: dos Estados Unidos a Trinidad e Tobago, do Reino Unido à Tanzânia, da Austrália à África do Sul.
Entre as línguas menos consagradas estão o sueco, com sete Prémios Nobel, o italiano e o russo com seis, o polaco com cinco, o dinamarquês e o norueguês com três, o chinês, o grego e o japonês com dois e 12 idiomas com um Nobel da Literatura ganho: português, árabe, bengali, checo, finlandês, hebraico, húngaro, ídiche, islandês, occitano (língua falada no sul de França), servo-croata e turco.
10 CURIOSIDADES
1. UM LÍDER NA GUERRA, NA PAZ E NAS LETRAS
Winston Churchill foi um estadista que se notabilizou por discursos mobilizadores durante a II Guerra Mundial. Mas não foi o seu talento enquanto tribuno que lhe valeu um Nobel. O antigo primeiro-ministro britânico venceu o Prémio da Literatura em 1953. A Academia justificou o reconhecimento “pelo seu domínio da descrição histórica e biográfica, bem como pela brilhante oratória na defesa de valores humanos elevados”.
2. A INDEPENDÊNCIA EM VEZ DO NOBEL
Se um Prémio Nobel é geralmente considerado uma honra maior, há quem se tenha recusado a recebê-lo. Foi o caso, na categoria da Literatura, do francês Jean-Paul Sartre que já tinha declinado a Legião Francesa. Numa carta publicada no jornal “Le Figaro”, defendeu que um escritor deve permanecer independente das instituições que concedem tais prémios. A atribuição de um Nobel não pode ser revogada, pelo que Sartre é o laureado de 1964.
3. LITERATURA COLOCA NOVE PAÍSES NO MAPA
No rol de países que já receberam Prémios Nobel, nove entraram nessa lista graças exclusivamente à Literatura. Dois países receberam dois galardões das letras: Grécia (1963 e 1979) e Chile (1945 e 1971, este último atribuído a Pablo Neruda). Sete receberam apenas um: Islândia (1955), Bósnia-Herzegovina (1961), Bulgária (1981), Nigéria (1986), Trinidad e Tobago (2001), Peru (2010) e Tanzânia (2021).
4. BOB DYLAN E AS PALAVRAS CANTADAS
O Nobel atribuído a Bob Dylan não foi consensual, dada a estranheza que causou o facto de ser, preferencialmente, músico. A Academia antecipou-se às críticas e justificou o Nobel ao compositor norte-americano “por ter criado novas expressões poéticas dentro da grande tradição musical americana”. Robert Zimmerman (o verdadeiro nome do artista) recebeu o prémio em 2016, aos 75 anos.
5. PARTILHA DO PRÉMIO NÃO É FREQUENTE
O Nobel da Literatura foi entregue em 115 anos a 119 escritores. Em quatro ocasiões, o galardão foi dividido por dois escritores: em 1904 (ao francês Frédéric Mistral e ao espanhol José Echegaray), em 1917 (aos dinamarqueses Karl Gjellerup e Henrik Pontoppidan), em 1966 (ao israelita Shmuel Agnon e à alemã Nelly Sachs) e em 1974 (aos suecos Eyvind Johnson e Harry Martinson). Não foi atribuído em sete anos.
6. O SEGUNDO NOBEL PARA PORTUGAL
José Saramago tinha 76 anos quando recebeu o Nobel, o segundo da história de Portugal. A Academia premiou “aquele que, com parábolas sustentadas pela imaginação, compaixão e ironia, nos permite continuamente mais uma vez apreender uma realidade ilusória”. No banquete em honra dos laureados, houve um cheirinho português no menu, com vinho do Porto Tawny de 30 anos da Sandeman.
7. OUTROS PORTUGUESES NOMEADOS
No arquivo de nomeações ao Nobel da Literatura, que atualmente apenas é público até 1971, há registo de 43 propostas de nomeações de outros escritores portugueses: António Correia de Oliveira (15 vezes), Maria Madalena de Martel Patrício (14), Teixeira de Pascoaes (5), Ferreira de Castro (4), Miguel Torga (2) e João da Câmara, João Bonança e Júlio Dantas (uma vez cada). As nomeações ao Nobel mantêm-se secretas durante 50 anos.
8. CEM ANOS A SEPARÁ-LOS
O escritor mais velho a receber o Nobel da Literatura tem mais do dobro da idade do mais novo. Com 88 anos, a britânica Doris Lessing tornou-se, em 2007, a laureada com mais idade. O galardoado mais jovem tem também nacionalidade britânica. Rudyard Kipling, autor de “O Livro da Selva”, tinha 41 anos quando ganhou o prémio, em 1907, pelo “poder de observação, originalidade da imaginação, virilidade das ideias e o notável talento para a narração”.
9. O AUTOR E A OBRA
Se, na maioria das vezes, um Nobel consagra uma carreira literária, a Academia Sueca justificou algumas decisões com obras literárias específicas. Aconteceu nove vezes, uma delas em 1954 quando o distinguido foi o norte-americano Ernest Hemingway. O Nobel foi-lhe entregue “pelo domínio da arte da narrativa, mais recentemente demonstrado em ‘O Velho e o Mar’, e pela influência que exerceu no estilo contemporâneo”.
10. PRÉMIO A UM FILHO DA CASA
Em 1931, o Nobel da Literatura foi concedido, a título póstumo, ao sueco Erik Axel Karlfeldt. Falecido nesse ano, ele era ‘um filho da casa’. No início do século, após obter reconhecimento como poeta, foi eleito para a Academia Sueca (1904), tornou-se membro do Instituto Nobel da Academia (1905) e do Comité Nobel (1907). Desde 1974, os estatutos da Fundação Nobel estipulam que o Nobel não pode ser dado post mortem.