A Química foi a disciplina no centro da obra de Alfred Nobel, crucial para o seu trabalho como criador e como industrial. Em meados do século XIX, foi ele a mente por detrás de duas invenções revolucionárias para a arte da guerra: o detonador e a dinamite, patenteados em 1863 e 1867, respetivamente.
Esta quarta-feira, pelas 10h45 (de Portugal Continental), será conhecida a escolha da Real Academia Sueca de Ciências, de Estocolmo, relativamente à pessoa que, no último ano, “fez a descoberta ou melhoria química mais importante”, como estipula o testamento de Alfred Nobel. O anúncio pode ser seguido neste link.
Até à presente edição dos Nobel, 117 dos 191 laureados com o Nobel da Química nasceram em três países apenas, o que corresponde a quase dois terços do total de distinguidos. Quase outros 30 laureados adquiriram uma dessas três nacionalidades ao longo da vida.
Desde 1901, receberam este prémio cientistas nascidos em apenas 28 países e um território disputado. Em 1986, um dos vencedores foi Yuan T. Lee, oriundo de Taiwan (a “província renegada” da República Popular da China) e posteriormente naturalizado norte-americano.
10 CURIOSIDADES
1. UM NOBEL CONTROVERSO
Alguns laureados com o Nobel da Química viram o seu prémio ser contestado. Um deles foi o alemão Fritz Haber, galardoado em 1918, “pela síntese do amoníaco”, que permitiu a produção deste composto em grandes quantidades. Este processo foi importante para a produção de fertilizantes, que revolucionaram a agricultura, e também de armas químicas destrutivas, como o gás de cloro, usado na I Guerra Mundial.
2. HARVARD, ‘FÁBRICA’ DE PREMIADOS
Martin Karplus, um norte-americano nascido na Áustria, foi o último investigador da Universidade de Harvard (EUA) a receber este Nobel, em 2013. Esta prestigiada instituição académica com sede no Massachusetts foi a que mais Prémios Nobel gerou em todo o mundo. Entre os seus docentes, 50 foram galardoados enquanto estavam no ativo: 17 na Medicina, 11 na Física, 11 na Economia, sete na Química, três na Paz e um na Literatura.
3. EFEITO DE ESTUFA É PREOCUPAÇÃO ANTIGA
No início do século XX, já se falava em aquecimento global, muito por força do trabalho desenvolvido por Svante Arrhenius. Este químico sueco, que recebeu o Prémio Nobel em 1903, foi pioneiro no uso de princípios da físico-química para calcular até que ponto o aumento do dióxido de carbono na atmosfera é responsável pelo aumento da temperatura da superfície terrestre.
4. PRIMEIRO A QUÍMICA, DEPOIS A PAZ
Linus Carl Pauling consta da história do Nobel como a única pessoa a receber dois prémios, a solo e em categorias distintas. Em 1954, este químico norte-americano venceu o Nobel da especialidade por investigações que haveriam de o consagrar como um dos pais da Química Quântica e da Biologia Molecular. Oito anos depois, recebeu o Nobel da Paz pelo seu combate à corrida ao armamento e às armas nucleares.
5. O MESMO NOBEL DUAS VEZES
O Nobel da Química foi entregue duas vezes à mesma pessoa em duas ocasiões. O inglês Frederick Sanger, investigador na Universidade de Cambridge, arrecadou-o em 1958 e em 1980. Mais jovem do que Sanger 23 anos, o norte-americano K. Barry Sharpless, cientista no Instituto de Investigação Scripps, da Califórnia, recebeu os seus dois Prémios já no século XXI: em 2001 e no ano passado.
6. PRÉMIOS, LAUREADOS E INDIVIDUALIDADES
O Nobel da Química já foi concedido 114 vezes a 191 laureados que, na realidade, correspondem a 189 indivíduos (já que dois cientistas ganharam-no duas vezes). Mas o que é um laureado? A palavra tem raízes na mitologia grega e no deus Apolo, que é representado com uma coroa de louros na cabeça. Na Grécia Antiga, estas coroas eram um sinal de honra e eram entregues aos vencedores de competições desportivas ou de poesia.
7. O FÜHRER NÃO DEIXOU
Dois alemães foram obrigados a declinar o Nobel da Química por decreto emitido por Adolf Hitler. Foram eles Richard Kuhn, em 1938, e Adolf Butenandt, em 1939, anos em que a Europa estava engolida pelo segundo conflito mundial. O líder nazi estava acossado por uma distinção anterior a um conterrâneo (Carl von Ossietzky, Nobel da Paz 1935), crítico dos desenvolvimentos políticos na Alemanha entre guerras.
8. O MAIS VETERANO DE TODOS
John B. Goodenough foi não só o mais velho a receber o Nobel da Química, como o mais velho em termos absolutos a ter um Nobel. Este norte-americano tinha 97 anos quando, em 2019, foi premiado “pelo desenvolvimento de baterias de ião-lítio”. No polo oposto, o químico Frédéric Joliot tinha 35 anos quando foi distinguido. A personalidade mais jovem nas seis categorias é Malala Yousafzai, que tinha 17 anos quando recebeu o Nobel da Paz, em 2014.
9. PAIXÃO NA FAMÍLIA
Oito anos após receber o Nobel da Física, Marie Curie foi distinguida, em 1911, com o da Química pela “descoberta dos elementos polónio e rádio”. A paixão pela Química contagiou a família e, em 1935, a sua filha mais velha, Irène Joliot-Curie, venceu o mesmo galardão, “em reconhecimento à síntese de novos elementos radioativos”. Sem carreira na Química, a filha mais nova, Ève Curie, foi casada com Henry R. Labouisse, diretor-executivo da UNICEF que, em 1965, recebeu o Nobel da Paz em nome da organização.
10. A CIÊNCIA QUE MAIS DISTINGUIU A SOLO
Nas categorias de ciências, o Nobel da Química foi aquele entregue a mais investigadores a título individual, ou seja, sem ser partilhado por mais laureados. Foram 63 os prémios da Química dados a uma só pessoa, enquanto o da Física recompensou 47 e o da Medicina 40. Este ano, o valor de cada prémio (que pode ser dividido até um máximo de três laureados) é de 11 milhões de coroas suecas (950 mil euros).