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Quem manda no Gabão depois do golpe? Oligui Nguema era responsável pela segurança do Presidente, agora assumiu o seu papel

Jurou fidelidade ao Presidente Ali Bongo em janeiro e, oito meses depois, é visto como líder do golpe de Estado no Gabão. Oligui Nguema, que integrava a guarda presidencial e a quem alguns meios de comunicação se referem como primo de Bongo, foi a pessoa escolhida para liderar a transição do país

Brice Oligui Nguema
AFP/Getty Images

Horas depois do golpe de Estado no Gabão ser anunciado na televisão, a 30 de agosto, o general Brice Oligui Nguema é erguido no ar pelos braços de soldados que repetem o seu nome como forma de celebração. O líder da guarda presidencial entidade de segurança responsável pela segurança do Presidente Ali Bongo Ondimba, que acabou por ser colocado em prisão domiciliária foi nomeado ‘Presidente da transição’.

Ali Bongo foi eleito pela primeira vez em 2009, depois da morte do seu pai, Omar Bongo Ondimba, que governou durante mais de 41 anos. Para já, o golpe de Estado representa o fim da liderança dos Onbimba no país, mas quem ocupa temporariamente o poder não é necessariamente afastado da sua árvore genealógica. Nguema, de 48 anos, está a ser descrito por meios de comunicação como The Times como sendo primo de Bongo.

Em janeiro, a agência noticiosa do Gabão AGP escreveu que os quatro chefes de Estado-Maior das forças de segurança reiteraram a sua lealdade e fidelidade ao Presidente Ali Bongo. A BBC escreve que Nguema era visto como figura próxima do pai de Ali Bongo, que serviu até à sua morte. Promovido à liderança da guarda republicana, assumiu a missão de manter o regime. “É alguém que não se esperava que [liderasse o Gabão] neste momento”, disse o analista Edwige Sorgho-Depagne à BBC.

No entanto, há quem lhe reconheça qualidades para a nova posição. “É alguém que conhece muito bem o aparato gabonês militar, bom soldado, formado em boas escolas militares”, afirmou um membro do Partido Democrático do Gabão (PDG), citado pela France 24 sob anonimato.

Não foi Nguema quem falou ao microfone no momento em que um grupo de militares anunciou que a forças de defesa e segurança decidiram “defender a paz, pondo fim ao regime em vigor”. Esse destaque coube ao coronel Ulrich Manfoumbi. No entanto, a Al Jazeera indica que os meios de comunicação locais retratam Nguema como líder da tentativa de golpe de Estado.

Em declarações exclusivas ao jornal Le Monde, antes de ser nomeado líder da transição, Nguema disse que há “descontentamento” no país e referiu o AVC sofrido por Ali Bongo em 2018. “Todos falam disso, mas ninguém assume responsabilidades. Não tinha direito a um terceiro mandato, a Constituição foi ignorada, o método de eleição em si não era bom. Por isso o exército decidiu virar a página, assumir as suas responsabilidades”, declarou. Quanto ao que o futuro reserva a Bongo, Nguema disse ao jornal que é um chefe de Estado “reformado” e que mantém “todos os seus direitos”.

Segundo a Reuters, Nguema é da província Haut-Ogooue, no sueste do país e na fronteira com o Congo. Substituiu o meio-irmão de Bongo na liderança da guarda republicana em outubro de 2019 e pouco depois lançou a operação anticorrupção “mãos limpas” para combater alegados desvios de fundos por parte do Estado.

Uma investigação de 2020 do The organized crime and corruption reporting project (OCCRP) sobre investimentos da família Bongo no estrangeiro revelou que Nguema comprou três propriedades nos Estados Unidos em dinheiro vivo. A figura militar rejeitou responder a perguntas dos jornalistas alegando que a “vida privada [deve ser] respeitada”.

“Comprou três propriedades em bairros de classe média e trabalhadora nos subúrbios de Maryland, de Hyattsville e Silver Spring, nos arredores da capital, em 2015 e 2018. As casas foram compradas com o total acima de um milhão de dólares em dinheiro”, relata a investigação.