O primeiro debate do Partido Republicano para escolher o candidato às presidenciais de 2024 chega aos ecrãs da população americana esta quarta-feira (madrugada de quinta-feira em Portugal). O Comité Nacional Republicano (RNC, na sigla em inglês) anunciou os nomes dos oito candidatos aptos a participar.
De fora pôs-se, desde logo, o homem que estava, segundo sondagem do New York Times/Siena College realizada no final de julho, 37 pontos percentuais à frente do segundo classificado, dominando a concorrência. No debate realizado em Milwaukee, Wisconsin, não participará o antigo Presidente Donald Trump. Segundo a agência Reuters, Trump já indicara, domingo, que ia faltar aos próximos debates das primárias. Argumenta que a sua liderança em sondagens é prova da sua popularidade.
“O RNC está entusiasmado em mostrar o nosso campo de candidatos diverso e a visão conservadora para vencer Joe Biden no palco de debate de quarta-feira à noite”, afirmou a presidente do Comité, Ronna McDaniel, em comunicado.
Os critérios de participação incluíam a necessidade de os aspirantes obterem pelo menos 1% de intenção de voto em três sondagens nacionais ou 1% em duas sondagens nacionais e o mesmo volume em sondagens preliminares de dois Estados. Outra exigência era um mínimo de 40 mil doadores únicos para a campanha presidencial.
O debate vai ser, na maioria, no masculino. Há só uma mulher na lista de candidatos aprovados. Apresentamos aqui um breve perfil das personalidades em causa e as ideias que defendem.
Doug Burgum
Nome pouco conhecido do eleitorado, Doug Burgum é um empresário que cresceu no Dacota do Norte e assumiu o cargo de governador deste estado em 2016. Ganhou lugar no debate desta quarta-feira depois de atrair doadores com vales-presente de 20 dólares (18,4€) em troca de donativos de um dólar. Na sua página enumera três prioridades: economia, energia e segurança nacional. Defende que a inovação é mais importante do que a regulação, quer cortar impostos e baixar preços de combustíveis.
Burgum assinou uma das leis antiaborto mais restritivas do país, impedindo a interrupção da gravidez no Dacota do Norte salvo raras exceções. Segundo a ABC News, disse que caso fosse eleito não defendia uma lei semelhante a nível nacional. “As melhores decisões são tomadas localmente”, declarou. Na esfera internacional, defende o apoio à Ucrânia, a responsabilização da Rússia, mas também que a Europa assuma um papel maior no apoio financeiro ao país invadido, escreveu “The Independent”. Não se pronuncia sobre as acusações contra Trump.
Chris Christie
É a segunda tentativa do antigo governador da Nova Jérsia para ser escolhido como candidato republicano às presidenciais, depois de em 2016 ter acabado por desistir. Chris Christie é assertivo contra Trump. Na rede social X (anteriormente Twitter), descreveu-o como “assustado” e a “esconder-se do palco de debate”, por não ter aceitado participar. Recorde-se que o ex-Presidente é alvo de acusações criminais pela Justiça federal dos Estados Unidos.
No campo da guerra, Christie deslocou-se à Ucrânia, onde se encontrou com o Presidente Volodymyr Zelensky. “A América faz bem em fornecer [equipamento]”, defendeu em entrevista à CNN internacional. A NBC News indica que o candidato se descreve como “pró-vida”, mas não apoia uma proibição do aborto a nível federal, que considera dever ser decisão estadual. A sua posição sobre o acesso a armas mudou desde os anos 90: na altura defendia a proibição de venda de armas de assalto, agora opõe-se a esta ideia.
Ron DeSantis
É governador da Florida e o segundo candidato com melhores resultados nas sondagens, apesar da ampla distância até Trump. Ao longo da sua candidatura já prometeu “construir o muro” na fronteira, declarar “independência financeira” da China e substituir o diretor do FBI. DeSantis disse que a guerra na Ucrânia não é “interesse nacional vital” para os Estados Unidos, mas corrigiu-se quanto a dizer que se tratava de uma “disputa territorial”, escreveu “The Independent”.
Criticou o que designa por “movimento woke” e “agenda transgénero”, e aprovou uma proposta que permite aos cidadãos da Florida andarem com uma arma oculta sem licença, deixando de ser necessária formação e verificação de antecedentes para tal. Em abril deste ano transformou em lei a proibição do aborto após as seis semanas, observou a agência Associated Press.
Nikki Haley
Depois de ter sido governadora da Carolina do Sul e embaixadora dos Estados Unidos junto das Nações Unidas, quer um lugar na Casa Branca. É clara na sua posição em relação à guerra: “É do melhor interesse da nossa segurança nacional que a Ucrânia ganhe”, considera, citada pela Reuters. E acusa Joe Biden de “não ter levado a ameaça da China a sério”.
A nível nacional, mostrou-se contra leis que permitam que armas possam ser temporariamente retiradas aos cidadãos enquanto um juiz determina se são uma ameaça para si ou para os outros (as chamadas leis de ‘alerta vermelho’), explicou a CNN internacional.
Segundo a Associated Press, Haley comprometeu-se a assinar uma proibição do aborto a nível nacional, embora sem especificar a partir de que semana vedaria o procedimento, e ressalvando que seria altamente improvável a medida passar sem mais republicanos no Congresso. Além disso, em declarações suas citadas por “The New York Times”, frisou a necessidade de “consenso”, que define como a concordância em impedir abortos tardios e que uma mulher não seja “presa ou sujeita à pena de morte” por fazer o procedimento.
Asa Hutchinson
O antigo governador do Arcansas considera que com as acusações que enfrenta, “Donald Trump se desqualificou de alguma vez voltar a ocupar” o lugar da presidência. A nível de posicionamento político externo, é defensor do apoio à Ucrânia. A nível interno, declarou à PBS News Hour que a segurança social e a Medicare devem ser protegidas.
Dentro da área dos direitos reprodutivos, Hutchinson aprovou em 2021 uma proibição do aborto que só incluiu uma exeção para casos de risco para a vida da mãe, tendo posteriormente indicado que se arrependeu de não ter incluído exceções para violações ou incesto, segundo a PBS News Hour. É um tema que remete para debate a nível estatal. Do mesmo modo que considera não ser necessária regulação federal para leis de ‘alerta vermelho’ e destaca a importância de investimento na saúde mental ao falar sobre medidas preventivas de tiroteios, com base nas declarações reproduzidas pela CBS News.
Mike Pence
Avô, cristão e conservador. São algumas das palavras que o antigo vice-presidente usa na rede social X para se definir. Durante a administração de Trump (de quem se afastou após o ataque ao Capitólio), deixou avisos aos migrantes, dizendo que “se não vêm legalmente, não venham de todo”.
Defende que ser “pró-vida” implica banir o aborto depois das seis semanas mesmo quando a gravidez não é viável – escreveu a Associated Press – e, indicou a Reuters, defende a imposição de pena de morte federal para quem se envolve em tiroteios em massa.
A nível económico, uma das suas propostas de combate à inflação passa por cortes a programas estatais, nomeadamente incentivos destinados a combater o impacto das alterações climáticas, noticiou a CNN internacional. Recorde-se que em 2019, Pence recusou afirmar que a crise climática ameace os Estados Unidos.
Em temas que ultrapassam fronteiras, foi o primeiro candidato republicano a fazer uma visita à Ucrânia, em junho, sendo grande defensor do apoio ao país. Considera o apoio ao exército ucraniano do “interesse nacional” dos EUA, segundo a NBC News.
Vivek Ramaswamy
O investidor é, segundo a Sky News, o mais jovem candidato republicano de sempre. Tem 38 anos, é filho de imigrantes e nos anos iniciais de carreira trabalhou com fundos de investimento especulativo, maioritariamente ligados à biotecnologia. Ramaswamy deixa claro o seu posicionamento ideológico na rede social X: opõe-se a leis sobre o discurso de ódio, defende que se deve “parar todo o apoio [à Ucrânia] e negociar paz com a Rússia” em troca do fim de uma aliança entre Moscovo e Pequim, e apela ao fim do “culto climático”.
A página eletrónica da sua campanha ajuda a colmatar o que pensa sobre outros temas. Sob a palavra “verdade”, enumera que “há dois géneros”, “uma fronteira aberta não é uma fronteira” e que o “capitalismo ergue as pessoas da pobreza”. Segundo “The Guardian”, diz-se “pró-vida”, mas é contra a proibição do aborto a nível federal. E no campo da imigração pretende acabar com o direito de cidadania dos filhos de imigrantes ilegais.
Tim Scott
Nasceu na Carolina do Sul e tornou-se senador em 2013. Segundo a NBC News, Tim Scott entende que um dos principais assuntos de direitos civis da atualidade é a qualidade da educação, vocaliza apoio à Ucrânia sem dar detalhes sobre como agiria em relação à guerra e afirma que assinaria legislação “mais conservadora” no que se refere ao aborto.
No campo da migração, defende a expulsão de imigrantes ilegais e o reconhecimento de cartéis de drogas como “terroristas”. O senador coloca a China no centro da defesa nacional. “Derrotar a China começa com a redução da nossa dívida nacional e remover o Partido Comunista Chinês das nossas universidades, do nosso terreno agrícola, dos nossos dados pessoais e dos nossos céus”, pode ler-se no seu programa político.