Internacional

Quem era Nahel, cuja morte motivou motins em França? Um jovem tranquilo com pequenos percalços como muitos outros em Nanterre

Nahel serviu de grito de guerra para milhares de pessoas que o veem o símbolo do tratamento injusto que a polícia francesa tem contra os jovens descendentes da imigração norte-africana ou negra africana

A mãe de Nahel
YOAN VALAT/Reuters

A morte de Nahel M. incendiou os bairros e voltou a pôr os olhos em França, mas o jovem de 17 anos enterrado este sábado em Nanterre, perto de Paris, é descrito como uma pessoa tranquila, por quem o conheceu. Uma reportagem da agência France Presse, no bairro de Nahel, dá conta de um jovem às vezes 'borderline', com uma vida semelhante à de muitos outros jovens da cidade de Nanterre, nos arredores da capital francesa, entre a sobrevivência e pequenos percalços com a lei.

Fã de rap e motas, o jovem, que foi enterrado no cemitério de Mont-Valérien, com a maior privacidade, foi criado sozinho pela mãe em Nanterre, a oeste de Paris. Morava num bairro em construção na propriedade Pablo-Picasso, aos pé do distrito de La Defense, onde começaram os primeiros tumultos, na terça-feira, logo após o disparo de um polícia que lhe foi fatal, durante uma fiscalização de trânsito enquanto ele conduzia um carro alugado.

Durante uma marcha branca na quinta-feira em sua memória, o seu primeiro nome, Nahel, serviu de grito de guerra para milhares de pessoas que viram no seu futuro destruído o símbolo do tratamento injusto que a polícia francesa tem contra os jovens da imigração norte-africana ou negra africana.

"Nahel, ele era um jovem tranquilo. Ele cometeu delitos, de acordo, mas em que mundo é motivo para o matar?", protestou Saliha, 65 anos, moradora no seu bairro. "Nahel é filho de todos", disseram outros manifestantes durante esta homenagem que resultou em violência.

Devastada, a sua mãe, Mounia, descreveu o jovem como o seu "melhor amigo". "Foi tudo para mim", disse esta mulher que expressou a sua "revolta" enquanto se recusava a criticar toda a força policial. "Não culpo a polícia, culpo uma pessoa: aquela que tirou a vida do meu filho", afirmou.

O eco da sua morte entoou muito além das fronteiras francesas e especialmente na Argélia, país de origem da sua família. O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Argélia expressou a sua "consternação" e afirmou que Nahel era um dos seus "cidadãos" com quem França tem um "dever de proteção".

O jovem, que também era muito próximo da avó materna, trabalhava como estafeta de entregas, segundo o advogado da família. Também iniciou um "curso de inserção" na associação Ovale Citoyen, que acompanha os jovens através do desporto, e estabeleceu uma parceria com o clube de rugby de Nanterre.

A ficha criminal de Nahel M. estava limpa, mas ele teve alguns desentendimentos com a lei por se recusar a obedecer, de acordo com o promotor de Nanterre, segundo o qual ele deveria comparecer no tribunal de menores em setembro.

Segundo as autoridades, foi a sua condução perigosa na terça-feira que justificou o controlo policial que lhe foi fatal.

"Para mim, Nahel foi o exemplo típico do jovem do bairro, fora da escola, às vezes marginal, mas não um ladrão de estrada, e que tinha vontade de sair dela", testemunhou Jeff Puech, presidente do Ovale Citoyen, nas colunas do diário “Sud-Ouest”. "Ele ia construir um novo futuro", garantiu a associação, no Twitter.

Há um mês, Nahel realizou o sonho de muitos jovens: apareceu como figurante num videoclipe filmado em Nanterre por Jul, astro do rap francês. Assim como desportistas e outros rappers, Jul compartilhou nas redes sociais o apelo para ajudar financeiramente a família de Nahel, em memória do "pequeno irmão".