Uma fila interminável de homens vestidos de djellabas, de qâmis, de kaftans, estende-se pela avenida George Clémenceau, em Nanterre, até à mesquita Ibn Badis. Todos querem assistir à cerimónia fúnebre de Nahel, o adolescente francês de 17 anos morto a tiro por um polícia quatro dias antes, não muito longe dali.
Está tudo calmo nesta longa avenida ladeada por grandes castanheiros, mas a tensão é palpável. Quatro noites de motins de uma violência incontrolável deixaram França em estado de choque. Nesta tarde de sábado em que Nahel vai a enterrar, não se vê um único uniforme em Nanterre, nem um carro-patrulha. A segurança é feita por funcionários da mesquita e da Câmara. O país retém a respiração, perguntando-se se no fim do funeral não haverá uma nova explosão de violência.
Um comunicado do advogado da família de Nahel, publicado de manhã, é categórico: os jornalistas estão proibidos de cobrir o funeral. Uns quatro ou cinco tentam apesar de tudo passar despercebidos no passeio oposto à mesquita, apinhado de gente que assiste só de longe. A vigilância é apertada. Assim que tiramos o telemóvel do bolso para escrever uma mensagem, um funcionário da mesquita dá um pulo para cobrir o aparelho com a uma mão e, numa voz que tenta ser contida, exige que ele desapareça no bolso.