Para identificar e combater o terrorismo de extrema-direita, os serviços de informações do Reino Unido – o MI5 – começaram a utilizar as mesmas ferramentas que são usadas contra a ameaça do terror islâmico. Além disso, tanto o MI5 como o MI6 (o serviço de informações para o estrangeiro, similar à norte-americana CIA) têm vindo a aumentar a cooperação internacional para lidar com este tipo de ameaças.
Estas são algumas das conclusões retiradas do relatório “Extreme Right-Wing Terrorism”, levado a cabo pela comissão de segurança e serviços de informações do Parlamento do Reino Unido e publicado na semana passada. Depois de ouvidos os principais responsáveis pela segurança nacional, nomeadamente os diretores do MI5, MI6 e da Unidade Contra-Terrorismo da polícia, os deputados britânicos sublinham que a pandemia de covid-19 e movimentos sociais como o “Black Lives Matter” aumentaram a capacidade da extrema-direita para recrutar cidadãos e planear ataques ideológicos.
A ameaça do terrorismo de extrema-direita está a crescer em todo o mundo ocidental, incluindo nos Estados Unidos e na Europa: em 2020, as Nações Unidas avisaram que o número de ataques com esta motivação ideológica tinha aumentado 320% nos cinco anos anteriores. Estes indicadores têm sido confirmados por várias instituições nacionais e internacionais, incluindo a Comissão Europeia.
“O MI5 assumiu a responsabilidade de lidar com o terrorismo de extrema direita sem ter os recursos adequados para o fazer (...) Esta situação é insustentável. O MI5 tem de receber mais financiamento para lidar com este tipo de casos sem que outras áreas do seu trabalho sofram”, lê-se no documento, que insta ainda os serviços de informações a pedirem apoio a entidades como a Behavioural Science Unit (BSU, unidade de ciência comportamental) para lidar com casos de potencial terrorismo de extrema-direita.
O relatório parlamentar identifica os muçulmanos como o principal alvo deste tipo de terrorismo. Esta islamofobia foi amplificada pelas recentes crises migratórias e pela proliferação da “teoria da grande substituição”, que defende estar em curso uma substituição demográfica da Europa: tem sido utilizada por André Ventura, mas é uma conspiração sem qualquer adesão à realidade.
O comité britânico também aponta judeus, negros, asiáticos e outras minorias étnicas como vítimas desta discriminação, lembrando que o racismo e o antissemitismo são peças “chave” das narrativas do neonazismo e da supremacia branca.