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Charles Michel no Conselho Europeu: Não toleramos "que tentem jogar à roleta russa com vida de civis"

Os líderes europeus, reunidos em Bruxelas, decidiram na segunda-feira solicitar às companhias europeias para evitar o espaço aéreo bielorrusso, enquanto banem as transportadoras da Bielorrússia na Europa, exigindo ainda mais sanções contra o regime de Lukashenko

Charles Michel
REUTERS

O presidente do Conselho Europeu disse hoje que a União Europeia (UE) "não tolera que tentem jogar à roleta russa com vida de civis", condenando o desvio do voo comercial para deter um opositor bielorrusso que seguia a bordo.

"Não toleramos que tentem jogar à roleta russa com a vida de civis inocentes, isso é inaceitável, e a reação de hoje [...] reflete a gravidade dos acontecimentos", afirmou Charles Michel, em Bruxelas.

Falando em conferência de imprensa no final do primeiro dia do Conselho Europeu - depois de os chefes de Governo e de Estado da UE terem decidido avançar com proibições e sanções contra o regime bielorrusso -, o responsável deplorou a "situação absolutamente inaceitável e escandalosa" registada no domingo, com a aterragem forçada de voo da Ryanair em Minsk.

"Tratou-se de uma ameaça à segurança da aviação civil e à segurança internacional", adiantou Charles Michel, vincando ainda que a UE "não respeita" o regime do Presidente da Bielorrússia, Aleksandr Lukashenko.

Os líderes europeus, reunidos em Bruxelas, decidiram na segunda-feira solicitar às companhias europeias para evitar o espaço aéreo bielorrusso, enquanto banem as transportadoras da Bielorrússia na Europa, exigindo ainda mais sanções contra o regime de Lukashenko.

Em causa está o desvio forçado de um voo da Ryanair para Minsk (Bielorrússia) no domingo à tarde, a meio de uma viagem entre Atenas (Grécia) e Vílnius (Lituânia), que culminou com a detenção do jornalista e ativista bielorrusso Roman Protasevich.

Também falando hoje aos jornalistas, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, observou que "a opinião no Conselho Europeu foi unânime, [de que] este é um ataque à democracia".

"Trata-se de um ataque à liberdade de expressão e de um ataque à serenidade europeia. E este comportamento ultrajante precisa de uma resposta forte", salientou a líder do executivo comunitário.

Os líderes europeus decidiram na segunda-feira, de forma unânime, "pedir ao Conselho para adotar as medidas necessárias para banir a entrada no espaço aéreo europeu de companhias aéreas da Bielorrússia e impedir o acesso dessas transportadoras aos aeroportos da UE", segundo as conclusões adotadas na ocasião.

Decidiram, também, "pedir às companhias aéreas sediadas na UE para evitar sobrevoar a Bielorrússia" e ainda solicitar "ao Conselho para adotar novas sanções económicas específicas".

Nessa tomada de posição, os 27 exigiram ainda uma "investigação urgente" por parte da Organização da Aviação Civil Internacional ao incidente, bem como a "libertação imediata" de Roman Protasevich e da sua namorada.

Charles Michel colocou este incidente na agenda da reunião visando a aplicação de pesadas sanções à Bielorrússia, além das já existentes (de, por exemplo, congelamento de bens) contra o Presidente bielorrusso, Aleksandr Lukashenko, e opressores do regime.

Roman Protasevich, cujo canal Nexta na rede social Telegram se tornou a principal fonte de informação nas primeiras semanas de protestos antigovernamentais após as eleições presidenciais de agosto de 2020, acabou detido pelas autoridades bielorrussas no domingo, quando os cerca de 120 passageiros do avião da Ryanair foram forçados a submeter-se a novo controlo em Minsk devido a um suposto aviso de bomba.

Em outubro de 2020, a UE avançou com sanções contra Alexander Lukashenko, reforçando as medidas restritivas adotadas contra repressores das manifestações pacíficas no país.

As presidenciais de 9 de agosto na Bielorrússia deram a vitória a Lukashenko, com 80% dos votos, no poder há 26 anos, o que é contestado pela oposição e não é reconhecido pela UE.

As relações externas dominam a agenda do Conselho Europeu que decorre até terça-feira e no qual Portugal está representado pelo primeiro-ministro, António Costa, que não prestou declarações à imprensa no primeiro dia dos trabalhos.