O presidente executivo da Ryanair classificou como um “sequestro com patrocínio estatal” o desvio forçado do voo da companhia aérea, ocorrido este domingo. Em entrevista à rádio irlandesa NewsTalk, Michael O'Leary disse também acreditar que agentes da "KGB bielorrussa" seguiam a bordo do avião desviado para Minsk, onde foi detido o joornalista Roman Protasevich e a sua companheira.
“Acreditamos que alguns agentes da KGB ficaram no aeroporto também”, acrescentou O’Leary, adiantando não poder dizer muito mais, pelo facto de “as autoridades europeias e a NATO” estarem a “lidar com o caso neste momento”,
As declarações do presidente da Ryanair vão ao encontro de relatos anteriores dando como certo que quatro outros passageiros desembarcaram em Minsk após a aterragem de emergência, o que parece confirmar que Protasevich estava a ser seguido pelos serviços de segurança.
O jornalista, de 26 anos, é o ex-editor-chefe do influente canal Nexta, que se tornou a principal fonte de informação nas primeiras semanas de protestos antigovernamentais após as eleições presidenciais de agosto de 2020 e que é acusado pelas autoridades bielorrussas de fomentar os protestos. No domingo, o voo que fazia a ligação entre Atenas e Vilnius, capital da Lituânia, foi desviado por ordem do Presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko.
Após o incidente, os líderes da União Europeia preparam-se para discutir as medidas a serem tomadas contra a Bielorrússia. O tema vai ser abordado na reunião extraordinária do Conselho Europeu, que arranca com um jantar ao final da tarde desta segunda-feira, em Bruxelas.
Reino Unido suspende voos e considera mais sanções
Já o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Dominic Raab, descreveu o desvio do avião como um “sequestro imprudente, cínico e perigoso”. O embaixador bielorrusso foi convocado, tendo sido suspensos todos os voos do Reino Unido que passavam pelo espaço aéreo da Bielorrússia, assim como foi suspensa a licença de operação da Belavia, a companhia aérea estatal bielorrussa. Mais sanções estão a ser consideradas, avisou o ministro.
Citando passageiros a bordo, o “The Guardian” avança que Protasevich começou a entregar à companheira os seus itens pessoais e o telemóvel assim que percebeu que o avião ia fazer uma aterragem de emergência. Antes, o jornalista teria enviado mensagens alegando que estava a ser seguido por um homem na sala de embarque em Atenas, alguém que suspeitava ser um agente bielorrusso dos serviços secretos. O homem teria ficado atrás dele na fila para embarcar.
Entretanto, A Força Aérea da Bielorrússia disse esta segunda-feira que o comandante do voo da Ryanair decidiu aterrar em Minsk “sem interferência”, após ter sido informado de uma ameaça de bomba, rejeitando assim a tese de desvio. “A decisão foi tomada pelo comandante da tripulação, sem interferência externa”, disse Igor Goloub, comandante da Força Aérea bielorrussa.
Quanto às autoridades da Bielorrússia, afirmaram esta segunda-feira que o voo da Ryanair foi ameaçado num e-mail reivindicado pela organização palestiniana Hamas. “Nós, soldados do Hamas, exigimos que Israel termine os ataques ao setor de Gaza. Exigimos à União Europeia que termine o seu apoio a Israel (...) caso as nossas reivindicações não sejam satisfeitas, uma bomba explodirá [a bordo do avião da Ryanair] sobre Vílnius”, citou Artem Sikorski, diretor do transporte aéreo no Ministério dos Transportes bielorrusso, esclarecendo que lia uma tradução em russo da mensagem recebida em inglês.
Letônia e Lituânia disseram que o espaço aéreo sobre a Bielorrússia devia ser considerado inseguro, com o ministro dos Negócios Estrangeiros da Letónia, Edgars Rinkēvičs, a defender que este seja fechado para todos os voos internacionais. A polícia lituana anunciou a abertura de uma investigação preliminar sobre o incidente.