Faz esta quinta-feira dois anos, o mundo assistia em direto ao incêndio da catedral que demorou 100 anos a construir e que escapou, quase incólume, aos bombardeamentos da II Guerra Mundial, ao fogo da Grande Guerra, e que também teve a fortuna de ser salva da fogueira na época da Comuna de Paris (1871) por artistas e enfermeiros das imediações. O Presidente Emmanuel Macron visitou o edifício e comparou o que aconteceu a 15 de abril de 2019 com a "pandemia", escreve o site da “bfmtv”.
“Estamos todos impressionados com o que vemos“, disse o chefe de Estado, citado pelo jornal “Le Parisien”. Macron fez-se acompanhar pela presidente da Câmara de Paris, Anne Hidalgo, potencial adversária socialista nas presidenciais de 2022.
O Presidente falou ao ‘coração’ dos franceses,ao afirmar: “A Catedral do Povo de Paris, que é um pouco a catedral de todas as mulheres e homens franceses, parecia inatacável. Era impensável que pudesse desaparecer. Esse momento tocou-nos a todos”. Reafirmou “o compromisso de [reconstruir o edifício até] 2024”.
Crime, desleixo ou acidente?
As restrições impostas pela pandemia atrasaram o andamento do inquérito judicial mas tudo indica que estará concluído até 2024. “Já foram feitas cerca de uma centena de audiências — aos trabalhadores da empresa de andaimes [da obra que estava em curso], aos agentes que descobriram o foco de incêndio, aos seguranças, etc.”, lembra o site da “bfmtv”.
"O passeio [em redor do templo] continua a ser um momento mágico e memorável", lê-se no site da catedral de Notre-Dame, dois anos depois do incêndio que danificou parte desta igreja que, por ser símbolo ecuménico, é muito mais do que uma catedral.
A vida dos parisienses e de todos os turistas [cerca de 13 milhões por ano] que diariamente entravam no templo alterou-se muito nos meses que se seguiram ao violento incêndio da tarde de segunda-feira, 15 de abril de 2019.
A reabertura de setembro
No final do verão de 2020 (15 de setembro), numa fase em que se queria crer que o desconfinamento fosse definitivo, o site da catedral anunciava a reabertura da loja. Uma mensagem assinada pelo arcebispo Patrick Chauvet explicava tratar-se de uma “aposta numa Paris privada de turistas”.
Era também, prosseguia Chauvet, “um forte sinal” para os cristãos. “Devemos combater esta pandemia garantindo que a vida é mais forte do que esta tragédia. A vida continua”, escreveu o responsável eclesiástico pela catedral.
A primeira pedra da Notre-Dame de Paris tem menos 20 anos do que Portugal. A imponente e rendilhada catedral foi construída por ordem e vontade do rei Luís VII e de Maurice de Sully, eleito bispo de Paris em 1160.
Estes dois homens permitiram que a basílica de Saint-Étienne (Santo Estêvão) fosse demolida, porque queriam deixar a sua marca no destino da cidade. Aproveitaram o fervilhante bulício da margem direita do rio Sena, lugar de passagem de viajantes e peregrinos, que davam azo a importantes trocas de mercadorias e saber cultural.
Na segunda metade do século XII, em 1163, foi colocada a primeira pedra da nova catedral, devidamente abençoada pela presença do Papa Alexandre III.
O plano do novo templo, cuja construção durou um século, era minucioso e incluía a construção de uma escola associada à catedral, arruamentos largos que fizessem brilhar as procissões e cerimónias religiosas e a reconstrução do Palácio Episcopal. Depois de concluída, a catedral foi objeto de intervenções, renovações e alguns atos de vandalismo nos séculos seguintes.
No conturbado período da Revolução Francesa— a que a Europa deve muitos dos princípios da Igualdade e Liberdade que tanto prezamos —, o templo foi dedicado ao culto da Razão e usado como armazém. Os excessos do período revolucionário conduziram ao saque e destruição das 28 estátuas de reis bíblicos, confundidas com estátuas de reis franceses. Só escapou a da Virgem Maria, no portal do claustro.
Napoleão na Notre-Dame
Em 1801, Napoleão Bonaparte assinou um tratado que garantia que o espaço da Notre-Dame seria devolvido à Igreja católica. Bonaparte escolheu a catedral para cenário da sua coroação como imperador e foi ali que se casou Maria Luísa da Áustria, em 1810.
Três décadas depois, a publicação do romance de Victor Hugo “Notre-Dame de Paris”, que celebrizou a lendária figura do corcunda Quasimodo (livro que poderia ser lido como manual contra a discriminação) deu novo fôlego à Catedral, colocando-a no centro das atenções de muitos leitores. Resta esperar pelo fim da pandemia e pela conclusão das obras para voltarmos a visitar a Notre-Dame de Paris.